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UMA DAS MAIORES AUTORIDADES CIENTÍFICAS DO BRASILNA ÁREA DE CARNES É A DIRETORA TÉCNICA E PESQUISADORADO INSTITUTO DE TECNOLOGIA DE ALIMENTOS DE SÃO PAULO,ANA LÚCIA CORRÊA LEMOS. ENGENHEIRA, MESTRE E DOUTORA EM TECNOLOGIA DE ALIMENTOS PELA UNIVERSIDADE ESTADUALDE CAMPINAS, ELA AFIRMA QUE A PRODUÇÃO DE CARNES DO BRASIL É UMA DAS MAIS SEGURAS DO MUNDO. ALÉM DE CONHECER O SISTEMA BRASILEIRO, TAMBÉM FEZ INÚMERASVISITAS A PLANTAS DO EXTERIOR.
A Operação Carne Fraca colocou sob suspeita a produção de agroindústrias de carnes do país. Na sua avaliação, a produção brasileira é segura?
Sem dúvida! A qualidade das carnes e dos produtos brasileiros processados é inquestionável. Costumo dizer que para conquistarmos os mercados externos não bastou sermos iguais a eles. Tivemos de ser melhores porque muitas vezes eles usam esse artifício para não comprar. Posso dizer com segurança, de visitas que fiz em frigoríficos no exterior, que somos melhores. As plantas brasileiras exportadoras de carnes são superiores às do exterior. É importante lembrar que nas carnes de aves e suínos nós temos o sistema de integração que aumenta muito a segurança do produto porque conhecemos o animal até a etapa final. É possível saber quem é o produtor, as rações a a empresa que fornece os medicamentos. Isso aumenta demais a segurança. Eu posso falar com toda a vivência que tenho que a produção brasileira de carnes é muito segura.
Quais serão os efeitos dessa operação para o país, na sua avaliação?
A Carne Fraca, ainda que tenha trazido informações desordenadas, afetou a imagem do produto brasileiro. Por outro lado, isso foi uma oportunidade de o consumidor ficar mais seguro porque os desvios que ocorreram, que eram minoria, não vão ocorrerão mais. Depois dessa operação, vamos ficar mais seguros do que estávamos.
Qual foi o erro da Polícia Federal?
A forma de divulgação foi panfletária. Como tem impacto direto num produto que envolve a saúde dos consumidores, esta divulgação desordenada, sem um parecer, uma análise prévia de profissionais do setor, trouxe sérias consequências. Aí dizem que não poderiam analisar porque as empresas acusadas seriam avisadas e se protegeriam. Não é isso. Há mecanismos para buscar órgãos independentes e solicitar de forma sigilosa uma análise e evitar a divulgação de informações equivocadas. Podem ter sido técnicos no que tange a atividades da PF. Mas não foram técnicos na outra parte. Podiam ter solicitado análises sob sigilo. Divulgaram gravações pela metade, não esclareceram nada.
Como avalia a série de normas do Brasil para garantir a segurança alimentar na área de carnes?
As normas brasileiras são rigorosíssimas. Os serviços de inspeção federal têm normativas e decretos-lei que são extremamente rígidos. Precisam de uma atualização porque são tão rígidos que dificultam a inclusão de uma inovação. Nossa legislação é extremamente restritiva, o que torna o produto muito seguro. Estão sendo feitas revisões, e a minha expectativa é de que esse fato poderá até modernizar toda a nossa legislação. Isso não significa tornar mais permissiva, é algo que, com a evolução da tecnologia, precisa ser revista porque as normas atuais são extremamente rígidas.
Nesta fase de dúvidas, muitos evitam carnes embaladas. O que é mais seguro?
É uma questão do imaginário popular. Porque alguns nomes de grandes empresas foram ventilados os consumidores vão se sentir mais seguros comprando uma carne aberta em um açougue? Na verdade, uma carne de embalagem fechada tem rótulo e deve ter todos os dados do produto, como origem, quem é o responsável. A segurança é algo muito mais amplo do que a boa aparência. Nem sempre as carnes com boas aparências estão inócuas. Há resíduos, microorganismos patogênicos causadores de infecção que não deterioram a carne. Tudo isso, você, consumidor, só terá garantia se tiver um controle sobre a origem da carne. A carne que se compra no varejo brasileiro vem de uma cadeia muito segura.
Nas redes sociais há muita informação falsa como filmes que contam que determinado frigorífico renova carne de boi que morre no transporte. A senhora pode comentar isso?
Realmente as mídias sociais dificultam muito uma avaliação por parte do leitor sobre a origem da informação. A geração de jovens se informa principalmente por elas. Por viverem em centros urbanos, eles não têm ideia de como acontece a produção animal. Quando você chega nessas imagens, na maioria das vezes junto com elas não há uma historinha do consumidor dizendo que comprou num supermercado “x”, fornecido pela empresa “y”... Qualquer consumidor, quando compra produto com alguma alteração, briga, questiona. Se há filmes e declarações sem comentário, eu ouso pensar que há, muitas vezes, até sabotagem. E depois há pessoas que competem dizendo: viu, meu vídeo foi compartilhado milhares de vezes. Minha sugestão a todas as empresas de alimentos é promover ações para educar o consumidor. Se alguém acredita que há jornal na salsicha é porque não sabe como o produto é feito.