Valor Econômico
Segundo o jornal Valor Econômico, dados de vendas do varejo divulgados ontem sugerem que a elevação de outras despesas (conta de luz, por exemplo) afetou a renda disponível para compra de itens básicos, como alimentos. Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE, pelo critério de média móvel trimestral, o volume de vendas nos supermercados recua há sete meses em relação a igual período de 2014. A velocidade de perda de fôlego no consumo de itens básicos é superior ao da desaceleração da renda.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio Continua (Pnad Continua), a queda na renda ainda não aconteceu. Em relação a igual período do ano anterior, a massa real de rendimentos continua maior.
No primeiro bimestre, o volume de vendas nos supermercados foi 0,8% menor que o de igual intervalo de 2014, período em que a massa de rendimentos foi 2% maior, segundo a Pnad (que compara os trimestres encerrados em janeiro e fevereiro). Em 12 meses, essas vendas se aproximam de um sinal negativo, com alta de apenas 0,3%, a menor desde junho de 2004. Já a massa salarial acumula aumento de 2,7% na comparação.
Nos últimos dez anos, o desempenho dos supermercados supera a alta real da renda na maioria dos meses. Desde 2002, em dois terços dos meses o volume de vendas nos supermercados subiu mais que o salário, ajudado por crédito.
Sem financiamento e com outras despesas afetando a renda disponível para o consumo, o varejo de alimentos e bens básicos está sendo bastante afetado. Entre as despesas que "avançaram" sobre o orçamento das famílias está a conta de luz. Ela ficou 25% mais cara no primeiro bimestre (em 2014 havia subido 0,36%). Os alimentos também subiram mais (2% agora e 1,4% em janeiro e fevereiro do ano passado), mas o dado de vendas em volume é deflacionado justamente pelos preços do segmento (supermercados, no caso).
Uma família com conta de luz de R$ 80 no ano passado, que tenha mantido o mesmo nível de consumo, passou a pagar R$ 100 este ano. E os dados sugerem que parte da conta foi paga com redução de gasto nos supermercados.