Cepea
Segundo pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, o impulso veio principalmente da postura retraída de produtores, que negociaram grande parte da safra 2015/16 antecipadamente, ainda em meados de 2015. Além disso, a demanda (interna e externa) aquecida, favorecida pela valorização do dólar frente ao Real, contribuiu para elevar as cotações.
O Indicador da soja Paranaguá ESALQ/BM&FBovespa, referente ao grão depositado no corredor de exportação e negociado na modalidade spot (pronta entrega), no porto de Paranaguá (PR), teve média de R$ 81,50/saca de 60 kg em 2016, a maior da série do Cepea, iniciada em 2006, em termos nominais. Ao deflacionar (IGP-DI de novembro/16), é a mais alta dos últimos três anos. A média ponderada da soja no Paraná, refletida no Indicador CEPEA/ESALQ, foi de R$ 77,43/saca 60 kg em 2016, também recorde nominal da série, iniciada em jul/97, e a maior desde 2013.
A moeda norte-americana foi cotada na média de R$ 3,4809 em 2016. As valorizações mais significativas do dólar frente ao Real ocorreram nos primeiros meses, quando ultrapassou os R$ 4, atraindo importadores para o Brasil.
Segundo pesquisadores do Cepea, o movimento de alta nos preços internos da oleaginosa vem sendo verificado desde meados de 2015, quando o clima desfavorável prejudicou parte das lavouras. Em 2016, as reações foram mais intensas em junho e julho, refletindo também os embarques aquecidos – em abril, as vendas externas de soja em grão ultrapassaram 10 milhões de toneladas. De janeiro a junho, o Brasil exportou 38,56 milhões de toneladas, volume nunca visto antes para esse período.
A confirmação de quebra na produção argentina contribuiu para aumentar das vendas externas brasileiras de soja e farelo, além de elevar os embarques norte-americanos desses produtos.
Como consequência do forte ritmo de embarque de soja, compradores brasileiros tiveram dificuldade em adquirir o grão para abastecer a demanda interna. Importadores chegaram a pagar mais de R$ 95,00/sc de 60 kg em junho, enquanto indústrias já estavam com a margem de esmagamento reduzida, com compras bem abaixo desse valor. Como resultado, algumas unidades paralisaram o processamento em setembro, devendo retomar as atividades apenas em 2017. A forte queda no consumo de farelo de soja, especialmente para a produção de ração animal, reforçou a redução do volume total processado.
A produção mundial de soja somou 313,3 milhões de toneladas na safra 2015/16, queda de 2% em relação à da 2014/15, segundo dados do USDA de dezembro. Os Estados Unidos colheram 106,8 milhões de toneladas, praticamente estável (-0,2%) frente ao volume da temporada anterior e o Brasil, 96,5 milhões de toneladas (-0,7%). Já na Argentina, a produção caiu 7,5%, totalizando 56,8 milhões de toneladas.
As transações mundiais, por sua vez, cresceram, somando 132 milhões de toneladas de soja em grão, e o esmagamento, 276,4 milhões de toneladas, volumes recordes. Assim, a relação estoque/consumo final foi de 24,5%, queda de 6,3% sobre a temporada anterior.
No segundo semestre, especificamente, a demanda externa pelo grão e derivados brasileiros se enfraqueceu, influenciada pela safra recorde nos Estados Unidos, de 118,6 milhões de toneladas de soja colhidas em 2016, que atraiu compradores estrangeiros. O enfraquecimento dos embarques e do dólar exerceu certa pressão sobre as cotações domésticas do grão na segunda metade do ano. Por outro lado, sem necessidade de “fazer caixa”, produtores permaneceram retraídos. Como resultado, aumentou a disparidade entre as ofertas de compradores e vendedores, tornando lenta a comercialização da safra 2016/17.
Em 2016, as exportações brasileiras de soja em grão somaram 51,58 milhões de toneladas, 5% inferior ao volume embarcado em 2015. Ainda assim, o preço recebido neste ano superou em 1,3% o do anterior. Os portos de escoamento da soja foram Santos e Paranaguá, tendo com destino principal a China – dados da Secex.
De farelo de soja, saíram dos portos brasileiros 14,4 milhões de toneladas, 2,6% abaixo do volume do ano anterior. O preço recebido pelo derivado na média de 2016 foi de R$ 1.251,79/tonelada, 4,4% inferior aos R$ 1.309,14/tonelada de 2015. Os principais compradores de farelo do Brasil foram os países baixos da Holanda.
De óleo de soja, os embarques se limitaram a 1,14 milhão de toneladas, a menor quantidade desde 2000, com destino basicamente à Índia. A forte desaceleração nas exportações de óleo esteve atrelada à firme demanda doméstica, direcionada principalmente à produção de biodiesel. Na média de 2016, o preço médio recebido pelas exportações do derivado foi de R$ 2.426,38/tonelada, 7% maior que o de 2015, ainda conforme a Secex.
Na média das regiões pesquisadas pelo Cepea, o farelo de soja se valorizou 8,7% entre 2015 e 2016, atingindo a maior média nominal desde 1999.
O preço do óleo de soja também foi recorde no ano passado, em termos nominais, a R$ 2.967,94/tonelada (posto na cidade de São Paulo com 12% de ICMS), 22,2% superior ao de 2015. Diante do alto teor de acidez contido nesse derivado, principalmente no Centro-Oeste do País, a disputa por óleo de boa qualidade aumentou, especialmente pelo setor de biodiesel.
Análise retrospectiva sobre o mercado de soja elaborada pelo Cepea.
Equipe: Prof. Dr. Lucilio R. Alves, Débora Kelen Pereira da Silva, Rafaela Moretti Vieira, Ketlyn Accorsi, Camila Pissinatto, Yasmin Pascoal Butinhão, Isabela Rossi e Stefane Moura.