Produtos in natura encareceram mais que industrializados

Correio de Uberlândia

A disparidade entre a inflação sobre os alimentos frescos (in natura) e os industrializados pode ser explicada pelo aumento na demanda e melhoria na alimentação da população nos últimos anos, segundo economistas. Mas, com o orçamento apertado, essa alta está fazendo com que parte dos brasileiros tenha uma piora na dieta. A procura por comidas mais naturais e saudáveis fez saltar o valor de carnes e hortaliças, por exemplo. A inflação acumulada sobre esses itens em Uberlândia foi de 101,48% e 150,31%, respectivamente, nos últimos dez anos. Enquanto isso, a inflação sobre os alimentos industrializados, como panificados e embutidos, foi de 97,82% e 57,78%, respectivamente.

Os dados são do Centro de Pesquisas Econômico-Sociais (Cepes) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e somam os Índices de Preços ao Consumidor (IPC) acumulados entre janeiro de 2006 e dezembro de 2015. As informações referentes aos três primeiros meses desse ano ainda não foram disponibilizadas.

O economista Luis Henrique Barboza de Deos explicou que, durante o período, o país viveu um momento econômico de muito desenvolvimento, com aumento do poder de compra, o que fez com que o brasileiro investisse mais na alimentação. “Agora, vivenciamos outro momento, em que os produtos estão muito caros, o que provoca uma queda na qualidade da alimentação. Se antes a dieta era baseada em qualidade de vida, hoje, inevitavelmente, é comandada pelo preço. Culturalmente, cortam-se os gastos na alimentação”, afirmou Deos.

É o caso da professora Lorena Pafume, que passou a consumir mais produtos industrializados. “Trabalho em dois empregos e quase não fico em casa. É mais prático de carregar e de encontrar, além de sair mais barato. Mas no almoço e no fim da tarde, tento fazer uma alimentação mais saudável”, afirmou.

Mesmo com a alta dos preços, a busca pela qualidade de vida fez a confeiteira Kátia Suelen Côrtes Masini consumir mais comidas naturais. Ela chegou a pesar 100 kg e teve problemas de saúde por causa do excesso de alimentos industrializados. Kátia Masini fez cirurgia de redução de estômago e reeducou-se para comer itens mais naturais e saudáveis. “Comia muitos enlatados, conservas, salgadinhos, e sei que esse mau hábito me levou a ser obesa. Hoje, como mais frutas, verduras e legumes, opto por cereais e tudo de mais natural possível. O valor não me impede de consumi-los. Mas compro em menor quantidade e priorizo o que é da estação”, disse.

Também preocupada com o bem-estar, a pedagoga Larissa Oliveira Arantes afirmou que o valor mais alto não a impede de comprar produtos naturais. “É uma questão de saúde, a gente se sente melhor quando a alimentação é mais balanceada. Costumo plantar algumas coisas no sítio em que moro, mas mesmo quando compro produtos industrializados, busco integrais e orgânicos. Meu filho, que hoje tem seis anos, sempre comeu tudo natural e integral”, disse.



Clima e possibilidade de estocagem também interferem em preços

De acordo com o economista do Cepes, Álvaro Fonseca, outro fator que pode ter interferido no preço dos produtos in natura é a variação climática, aliada ao aumento da procura. “Alimentos naturais, como hortaliças e carnes, são influenciados por intempéries. Em anos de clima mais seco – e os últimos anos foram assim -, por exemplo, o gado emagrece e as hortaliças são produzidas em menor quantidade. Mas a demanda não reduz. Então, os preços sobem”, afirmou Fonseca.

Segundo ele, o que pode fazer itens industrializados variarem menos é a possibilidade de estocar. “Isso regula um pouco a oferta e a procura. Eles têm tempo de perecividade diferente.”

Aumentar consumo de processados pode sair mais caro



Aumentar o consumo de produtos industrializados pode, segundo especialistas, agravar ainda mais a epidemia de obesidade que o país vivencia. Um estudo da revista científica Lancet mostra que cerca de 40 milhões de brasileiros adultos, quase 20% do total, são obesos. Essa taxa coloca o Brasil entre um dos primeiros no ranking.

De acordo com a nutricionista Carolina Domingues de Pádua, dar preferência aos industrializados pode sair mais caro. “Essa economia não compensa, porque o consumo desse tipo de alimento pode levar a obesidade e provocar outras doenças, como hipertensão e até câncer.”

A nutricionista funcional Lucyane Crosara disse que quanto mais processado for o produto, menos nutrientes ele terá. “Em alguns casos, chega-se a adicionar sabor e aroma artificiais, tamanha é a perda no processo. Isso causa um prejuízo muito grande para a saúde”, afirmou.

Para minimizar esse efeito, ela sugere que as pessoas equilibrem a alimentação. “As pessoas podem priorizar a saúde escolhendo frutas e verduras da estação, que são mais baratas e de melhor qualidade. Também é possível organizar a comida no fim de semana para que durante os dias de trabalho o preparo seja mais rápido.”



Data da Notícia: 18/04/2016
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