Valor Econômico
Os preços dos produtos agrícolas vão permanecer estáveis em preços reais, mas há riscos de um choque de alta, durante os próximos dez anos, avalia a FAO, agência da ONU para agricultura e alimentação, em relatório sobre as perspectivas 2016-2025 para o setor no mundo. O o diretor da divisão de comércio e mercados da FAO, Ben-Belhassen Boubaker, disse que essa estagnação nos preços se explica pelo equilíbrio entre crescimento da produção e da demanda.
"Há ganhos de eficiência da produção e um crescimento limitado da demanda", afirmou Boubaker, ressaltando, porém, que incertezas ligadas ao clima, mudanças de políticas, conflitos, preço do petróleo, podem alterar toda a situação. "Vemos que há uma grande possibilidade de um choque durante os próximos anos, e isso pode afetar os preços para cima e perturbar os mercados", acrescentou.
A entidade chegou a essa conclusão também ao examinar acontecimentos que ocorreram nos últimos dez anos, e o que pode acontecer na próxima década se eles se repetirem. Uma incerteza forte é em relação às adversidades climáticas, que estão aumentando em frequência e intensidade. Além disso, as exportações agrícolas serão fortemente concentradas num número reduzido de países, o que também amplia riscos de turbulências nos mercados.
O relatório que a FAO e a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgam hoje, em Roma, projeta aumento da produção agrícola, mas com taxa menos elevada, de 1,6% por ano comparado aos 2,5% nos últimos dez anos. Essa redução está relacionada à queda dos preços, que afetaram investimentos, e com a limitação da expansão de terras agrícolas e de recursos naturais.
Para Boubaker, o crescimento da oferta será principalmente impulsionado pela produtividade. A melhora no rendimento das colheitas de soja, milho, e outros, deverá assegurar 80% do aumento da produção. A área das culturas e as superfícies ocupadas por rebanhos vão mudar pouco.
O aumento da área de cultivo ocorrerá basicamente na América Latina e na África subsaariana. Boubaker alertou para a intensificação da produção, para que seja douradoura e com menos uso de insumos. A demanda também vai crescer, igualmente em menor intensidade, devido à desaceleração do avanço da população e do modesto crescimento global. Boubaker citou ainda uma "saturação progressiva do consumo, especialmente nas economias emergentes".
Segundo a FAO, já mudança na composição da demanda. A busca por carnes, pescado e lácteos vai crescer nos próximos dez anos em relação a produtos básicos, como trigo e arroz. E isso vai levar a uma demanda maior por grãos para ração para animais de corte.
A entidade estima ainda que a demanda por produtos agrícolas destinados à fabricação de biocombustíveis vá estagnar, por causa da baixa do preço da energia e pela adoção de políticas mais moderadas nesse segmento em vários países.
Diante do desenvolvimento mais lento dos mercados agrícolas, o ritmo de expansão do comércio mundial deve perder força. Por outro lado, as regiões e países pobres em recursos naturais deverão aumentar suas importações de alimentos. E o desafio será pagarem a fatura de importações.