Os negócios da China atraem os brasileiros

Jornal do Comércio

Quando um negócio era muito bom, era um "negócio da China". Provavelmente resquícios dos tempos coloniais em que ingleses e portugueses, especialmente, exploravam a Ásia em busca de especiarias e de tudo o que pudesse lhes dar lucro, eis que tinham colônias em quase todos os continentes. Hong Kong e Macau foram os enclaves de Londres e Lisboa na China de então. Mas o interesse da China pelo Brasil é um fato observado nos últimos anos, como do Brasil pela China. Prova disso é que a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), foi à China cinco vezes em dois anos. Na viagem mais recente, acompanhou representantes de uma churrascaria brasileira que deseja implantar uma rede de restaurantes na China. A intenção é que ela seja ponta de lança para a marca Brasil. A carne nacional foi embargada pela China em 2005, por causa da febre aftosa, liberada, e bloqueada de novo em 2013, em razão do mal da vaca louca no Estado do Paraná. "Um dos objetivos do governo chinês é ampliar fortemente a classe média e o consumo das famílias", disse a senadora, ainda em Pequim, onde a CNA abriu escritório. Kátia Abreu acredita que isso terá muitas consequências, e uma delas é o aumento do consumo de proteína animal, especialmente bovina. Assim, os produtores brasileiros devem estar preparados para atender a esse mercado. A rede de churrascarias poderá contar com financiamento do Bndes e total apoio do governo, assegurou Kátia. Assim, o embargo à carne brasileira poderá ser suspenso antes da vinda do presidente Xi Jinping ao Brasil, em março ou abril. Hoje, apenas oito frigoríficos de carne bovina, oito de suína e 24 de aves estão habilitados pelas autoridades sanitárias chinesas, enquanto há 200 outros que poderiam tranquilamente exportar para a China, ainda segundo a presidente da CNA.

Com relação às aves, não há restrições, mas o processo de habilitação é moroso. A mesma estratégia de reforçar a marca Brasil será usada pelo setor de café, por meio de uma rede de cafeterias, como fez a Colômbia, com sua rede de franquias Juan Valdez no mundo, e o país maior produtor e exportador de café tem que ter sua marca própria. Em 2013, a China passou a União Europeia (UE) como primeiro destino das exportações agrícolas brasileiras. Os chineses compraram 24% dos produtos exportados, e a UE, 22%. Metade da soja produzida no Brasil é vendida para a China. Somando grão e farelos, foram US$ 11,9 bilhões no ano passado, ou 22,5 milhões de toneladas. Kátia Abreu esteve em missão na UE uma vez nos últimos dois anos, e a CNA abriu seu escritório em Bruxelas.

O café é um dos produtos de consumo não tradicional na China nos quais o Brasil quer investir, destaca Clodoaldo Hugueney, embaixador em Pequim entre outubro de 2008 e fevereiro de 2013 e atualmente consultor da CNA. Outro é o vinho. Os preços do café caíram muito nos últimos dois anos.

No entanto, a perspectiva de consumo chinês é uma oportunidade de recuperar o preço. Os chineses tomam três xícaras por ano, enquanto os brasileiros ingerem 850. Se os chineses passarem de três para dez, bem pouco acréscimo, estará aberto um mercado gigantesco. Enfim, os negócios da China nos esperam.



Data da Notícia: 07/01/2014
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