Há uma questão vital e de alta relevância para o futuro de Santa
Catarina, mas que, infelizmente, ainda não entrou na pauta de
prioridades do governo nem está no cotidiano da sociedade. Um misto de
incompreensão e ignorância – não por má fé, mas por desconhecimento de
causa – faz com que essa matéria seja tratada sem a necessária atenção
por gestores públicos e planejadores, empresários e investidores. É a
necessidade de modal ferroviário para sustentar o desenvolvimento
econômico como um todo e, em especial, para manter o vasto complexo
agroindustrial catarinense. Trata-se de uma necessidade que extrapola as
fronteiras estaduais e tornou-se essencial para o futuro do Sul do
Brasil.
O drama da indústria de processamento de carnes instalada, em sua maior
parte, no grande oeste barriga-verde é a necessidade de buscar todos os
anos no exterior ou no centro-oeste do País as 6 milhões de toneladas
de grãos que faltam para alimentar os imensos planteis de aves e suínos
alojados em milhares de propriedades rurais. Hodiernamente, a maior
parte dessa matéria-prima vem de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul pelo
transporte rodoviário. Essa operação exige mais de 100.000 viagens ao
ano, com grandes custos econômicos, humanos e ambientais.
A solução é a construção de ferrovia ligando o oeste catarinense ao
centro-oeste brasileiro, aproveitando um trecho já existente da empresa
paranaense Ferroeste. A prioridade é a construção do trecho
Chapecó-Cascavel, unindo os municípios-polos do oeste de Santa Catarina e
do oeste do Paraná. Um grupo de oito entidades empresariais –
Sindicarne/Acav, ACIC, CEC, Faesc, Fiesc, Facisc, Ocesc e ABPA –
patrocinou um estudo de viabilidade econômica, técnica e ambiental que
comprovou a necessidade e a racionalidade do empreendimento.
Simultaneamente, a Ferroeste trata de viabilizar o segmento
Cascavel-Maracaju (MS), estabelecendo o tão almejado corredor do milho.
Conscientes da importância da expansão dessa ferrovia, lideranças
sul-rio-grandenses buscam recursos para o projeto Chapecó-Passo Fundo
(RS), que, no futuro, deve atingir o porto de Rio Grande.
Paralelamente à campanha pela linha férrea norte-sul, o setor produtivo
defende a necessidade de uma ferrovia em território catarinense,
ligando o oeste ao litoral, para o escoamento da produção industrial aos
portos marítimos. A boa notícia é que o Governo de Santa Catarina
contratou a elaboração do projeto do trecho Correia Pinto-Chapecó.
Fica, assim, evidente a importância dos dois projetos que, na
realidade, são complementares e jamais concorrentes. É reconfortante
constatar que depois de 40 anos de retórica vazia e proselitismo, há um
movimento sério e consistente. Um Grupo de Trabalho (GT) formado pelas
entidades empresariais, sob coordenação da Associação Comercial e
Industrial de Chapecó, está, desde o ano passado, atuando em três
frentes para que os projetos ferroviários saiam do papel.
Junto
ao setor público federal, esse GT gestiona celeridade na publicação dos
atos licitatórios, leilões ou contratos de PPP (parcerias
público-privadas) para que a obra seja realmente iniciada. Junto ao
empresariado, o GT incentiva a formação de consórcios de empresas
nacionais e transnacionais para que participem das modalidades de
licitação. Essa ação é estratégica porque é notório que o Estado
brasileiro não tem condições de executar obras de superestrutura, sendo,
portanto, necessário atrair capital internacional.
A terceira vertente de atuação do Grupo de Trabalho é convencer setores
da Administração Pública sobre seu caráter essencial e imprescindível
e, ao mesmo tempo, criar uma robusta e sólida convicção junto ao
empresariado e à sociedade em geral sobre o papel das ferrovias para a
construção do futuro da região.
Alguns tecnocratas tentaram solapar o movimento, alegando que uma
ferrovia ligando Santa Catarina ao Paraná esvaziaria os portos
catarinenses, gerando prejuízos à economia e ao erário público. A
verdade é que, sem ferrovias, em menos de 10 anos as agroindústrias –
para manter a competitividade e permanecerem no mercado – acabarão se
transferindo integralmente ao centro-oeste brasileiro. Aí sim,
esvaziariam os portos catarinenses!
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