Nova safra desafia rentabilidade das granjas

Pork World

A chegada do milho safrinha no ciclo 2015/2016 representa aos suinocultores um ponto de interrogação sobre a qualidade dos grãos que vão ser usados como alimento em suas granjas. Nessa última temporada, a produção agrícola brasileira sofreu diretamente os impactos do fenômeno climático El Niño, que resultou em poucas chuvas na região Norte e volumes elevados na região Sul. A instabilidade prejudicou o desenvolvimento das lavouras, expondo os grãos à ação dos fungos e consequentemente, ao desenvolvimento de micotoxinas, que representam uma ameaça ao desenvolvimento dos suínos, diante das exigências do mercado e dos consumidores relacionadas à qualidade da carne e ao bem-estar animal.

A qualidade dos grãos de milho é alterada direta ou indiretamente quando estes são infectados por fungos, pela produção de micotoxinas, que ocasionam danos à saúde tanto humana quanto animal em razão da atividade tóxica que podem exercer sobre o organismo (FARIAS et al., 2000; KUMAR et al., 2008). Em geral, a deterioração dos grãos começa ainda no campo, onde, por conveniência econômica, o produto é mantido na planta até a secagem, prática esta que é largamente utilizada pelos agricultores, uma vez que requer o mínimo de investimento. Todavia, esta prática pode resultar no início de elevadas infestações de fungos e de pragas de grãos armazenados (MILLER, 1995; RESNIK et al., 1996; REID et al., 1999; NESCI et al., 2003).

As micotoxinas são metabólitos secundários de fungos que têm propriedades tóxicas e são comumente encontrados em grãos (Binder et al., 2007), produzidos principalmente pelos fungos Aspergillus, Fusarium e Penicillium que podem afetar a saúde e o desempenho dos animais. Essas espécies fúngicas são capazes de produzir diversas micotoxinas, dependendo de condições como pH, oxigênio, atividade de água, presença de organismos competidores, linhagem do fungo, temperatura e tipo de substrato. Dessa forma, fica claro que as instabilidades climáticas ocasionadas pelo El Niño ampliaram os riscos nessa safra, afetando a qualidade do milho produzido e aumentando a possibilidade de proliferação das micotoxinas. Considerando que aproximadamente 70% dos custos de produção da espécie estão relacionados à alimentação, a qualidade e contaminação dos grãos por micotoxinas representará um risco a lucratividade das empresas.

De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), em torno de 25% de todos os grãos produzidos no mundo estão contaminados por micotoxinas. Essa contaminação se deve principalmente a condições favoráveis para propagação desses organismos durante o desenvolvimento das culturas e o armazenamento dos grãos. Também podemos observar contaminações no interior das fábricas e no armazenamento de rações.

Por isso, tem se tornado frequente entre as empresas a realização de avaliações da contaminação por micotoxinas para monitoramento e controle da qualidade de suas matérias primas e produtos finais. Os métodos de análise incluem a cromatografia em camada delgada (TLC), cromatografia gasosa (GC), fluorescência, ELISA (Enzyme-linked Immunosorbent Assay), kits rápidos, HPLC (High-performance Liquid Chromatography), espectrometria de massa (MS), espectrometria de massa em tandem (MS/MS), entre outras (Köppen et al., 2010).

Com a necessidade de resultados rápidos, são utilizados os testes de fluorescência e kits rápidos, especialmente durante o recebimento de matérias primas. Também é bastante comum o uso do teste de ELISA (Enzyme-linked Immunosorbent Assay) para verificação de níveis de contaminação. Esses testes, em geral, abrangem seis diferentes grupos de micotoxinas que são as Aflatoxinas, Fumonisinas, Zearalenona, Ocratoxinas, Tricotecenos tipo A (Toxina T2) e Tricotecenos Tipo B (Desoxinivalenol). Embora esses grupos sejam considerados como os principais causadores de danos aos animais, existem cerca de outras 500 micotoxinas catalogadas que não são detectadas pelas técnicas convencionais, porém nem todas tem seu efeito conhecido, mas podem contribuir para a toxicidade final do alimento. Outras metodologias, como o HPLC, capazes de detectar mais micotoxinas além das identificadas por ELISA também são utilizadas. Embora seja capaz de detectar outras micotoxinas, o HPLC apresenta uma limitação no tempo de análise e dependendo da qualidade da extração, também pode apresentar resultados falso-positivos, ou seja, pode falhar na detecção das micotoxinas mascaradas. Há quatro tipos básicos de toxicidade causados pelas micotoxinas: agudo, crônico, teratogênico e mutagênico. O acúmulo dessas micotoxinas pode representar uma ameaça também aos seres humanos, incluindo indução do câncer, mutações genéticas, comprometimento do sistema imunológico, além de distúrbios estrogênicos, gastrintestinais, urogenitais, vasculares, renais e nervosos.

Outra informação importante é que algumas micotoxinas podem potencializar o efeito de outras, atuando de forma sinérgica (Imagem 1). Portanto, torna-se cada vez mais importante conhecer a fundo a contaminação presente nos grãos a serem utilizados.

Embora baixos níveis de micotoxinas não induzam o aparecimento de sinais clínicos imediatos, quando acumuladas no organismo, podem levar ao surgimento de casos crônicos de intoxicação. Sendo observados casos de mutação e teratogenicidade devido à exposição continua dos animais, o que se busca em um método analítico atualmente é uma alta capacidade de detecção de micotoxinas, tanto em número como em concentração, com tempo reduzido de análise.

Para atender esses pontos, a Alltech desenvolveu o Programa 37+, suportado por laboratórios localizados nos Estados Unidos e Irlanda, que disponibilizam o serviço de análises de 38 micotoxinas para empresas em todo mundo. O programa usa a tecnologia de UPLC (Ultra Performance Liquid Chromatography) associada ao duplo espectrômetro de massa, capaz de detectar simultaneamente 38 micotoxinas produzidas pelas principais espécies de fungos como Aspergillus, Fusarium, Penicillium e Claviceps que estejam presentes em amostras de cereais, oleaginosas, silagens ou na ração final. O UPLC permite uma análise mais rápida e a quantificação de diversas micotoxinas simultaneamente. Essa metodologia permite a redução do tempo de análise em cerca de 10 vezes. A dupla espectrometria de massa permite a detecção precisa de cada micotoxina presente na amostra, incluindo as micotoxinas mascaradas. Cada amostra é analisada em triplicata, tendo a média como resultado final, onde é informado o nível detectado, o desvio padrão, o limite de detecção e o limite de quantificação expressos em até partes por trilhão.

No último ano, a Alltech na America Latina analisou mais de 146 amostras de alimento o que nos permite informar que os alimentos para o consumo animal estão contaminados em média por mais de quatro micotoxinas diferentes por amostra. Análises recentes mostraram que 99% das amostras dos grãos e das rações para suínos coletadas no território nacional continham duas ou mais micotoxinas, com uma média de 4,5 micotoxinas por amostra. As mais prevalentes, presentes em mais de 80% das amostras, foram as micotoxinas Tricotecenos Tipo B, Ácido Fusário e as Fumonisinas.

Os resultados observados são preocupantes, já que 99% das amostras analisadas apresentavam duas ou mais micotoxinas. Com isso fica claro que existe um risco importante para a indústria suína no Brasil e é vital tomar as precauções necessárias para evitar perdas econômicas, vitais para manter a rentabilidade das empresas e dos produtores.

Artigo produzido Alessandra Alves de Paulo, que médica veterinária formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com MBA em Gestão do Agronegócio pela Fundação Getúlio Vargas, e gerente de vendas da Alletch para os estados de MG e GO



Data da Notícia: 12/08/2016
Tags: Economia
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