Milho: entenda por que os preços estão em queda

Farming

Os produtores de milho estão dispostos a investir para elevar a produtividade e melhorar a qualidade da produção. Na primeira safra de milho 2016/2017, no Rio Grande do Sul, por exemplo, há relatos de produtores que chegaram a colher 292 sacas de milho por hectare, com um manejo cuidadoso e investimento em tecnologia.

Nesse estado, o produtor que irriga consegue alcançar, em média, produtividade em torno de 220 sacas por hectare. Isso com um custo de produção entre R$ 3.500 e R$ 4 mil por hectare, segundo Claudio de Jesus, presidente da Associação dos Produtores de Milho do Rio Grande do Sul (Apromilho-RS). “O produtor vem perseguindo melhores produtividades e quem fez venda antecipada de milho vai ter uma boa rentabilidade”, afirma ele.

Segundo Claudio de Jesus, a cultura tem tudo para avançar. “O Brasil trilha um caminho forte. Tem espaço, tecnologia, máquina e terra para crescer na produção de milho”, afirma. “Devido aos avanços da genética [das sementes], a segunda safra no Mato Grosso também tem muito a crescer em produtividade”, diz ele.

Mercado instável

Porém, a maior reclamação dos agricultores são os baixos preços registrados para o cereal. O único problema, na opinião de Claudio de Jesus, são os solavancos do mercado. “Uma hora a saca está a R$ 40 e outra hora a R$ 20 reais. Agora, os preços baixos de milho não estimulam o produtor. No curto prazo, eu não vejo fatores que mudem isso”, diz. O presidente da Apromilho também afirma que não há uma boa política para o milho. “Duas coisas ajudariam o setor a evoluir, um seguro rural que proteja a renda do produtor e preços mais estáveis.”

Grande safra prejudica o produtor?

As boas notícias sobre a primeira safra de milho e as boas expectativas para a safrinha já refletem no mercado. “Se o recorde de produção se confirmar, teremos um cenário baixista para os preços do milho. O cenário mundial também é de preços mais baixos”, afirma Ana Luiza Lodi, analista de mercado da consultoria INTL FCStone.

Além disso, a previsão indica altos estoques, em torno de 18 milhões de toneladas, e a desvalorização do dólar prejudica as exportações. “É um estoque muito elevado. Do lado da demanda, o cambio não está tão favorável e a comercialização de milho segue mais lenta”, afirma Ana Luiza. Segundo a analista, avaliando a relação entre estoques e consumo brasileiro, esse volume seria suficiente para suprir 22% da demanda anual.

Previsões

Se essa conjuntura continuar, o produtor de milho pode ter dificuldades financeiras no segundo semestre. “O preço do milho vem caindo e fica mais difícil negociar. O produtor tem o comportamento de esperar preços melhores e segurar a produção para vender no futuro. Mas a recomendação é negociar aos poucos quando tiver alguma margem de lucro”, diz Ana Luiza.

Outro detalhe importante é a previsão de boa safra de milho nos Estados Unidos, que também eleva a oferta global e pressiona as cotações. “Tudo indica que os americanos vão plantar menos milho, mas a produtividade deles é alta”, afirma a analista. “Podemos ter uma surpresa negativa nos Estados Unidos e o preço disparar ou uma safra grande e o preço cair ainda mais. Além disso, com as incertezas sobre as reformas políticas no Brasil, podemos ter muitas turbulências no mercado”, diz.

Política instável

Um exemplo de turbulência no mercado brasileiro é a operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal, que pode impactar o setor. Claudio de Jesus, da Apromilho, considera que prejuízos na produção e exportação de carnes refletem no mercado de grãos, já que o milho é o principal insumo da ração de aves e suínos e na alimentação de bovinos em confinamento. “Os mercados vão se aproveitar dessa situação para barganhar preço e a operação carne fraca pode afetar o consumo de milho e piorar ainda mais o cenário”, alerta Claudio de Jesus.



Data da Notícia: 31/05/2017
O SINDICARNE / ACAV / AINCADESC utiliza cookies para a geração de estatísticas nos acessos do site, essas informações são armazenadas em caráter temporário exclusivamente para esta finalidade. Ao utilizar nossos serviços, você concorda com o monitoramento.