Blog do Coser
As perdas acumuladas no preço do suíno em 2015 já ultrapassam 30% no mercado de São Paulo, tendo a cotação do animal vivo saído de R$ 4,85 o quilo na primeira semana do ano para R$ 3,30 na terceira semana de abril. Situação de difícil explicação quando se constata que não há excesso de animais para abate e principalmente quando se observa que o preço da arroba do boi não dá fôlego ao consumidor. Depois de um ano de ganhos excepcionais o momento já é de preocupação com a rentabilidade da atividade.
A previsibilidade do mercado de preços do suíno vivo é algo que beira o “achismo” devido suas particularidades e ao pouco conhecimento que ainda temos do perfil do consumidor brasileiro quanto às suas escolhas no momento de compra da sua opção de proteína animal. Muitos tentam fazer uma associação entre o preço da arroba do boi gordo e o preço da arroba do suíno, utilizando para isso dados de séries históricas. A comparação é válida para compreendermos as mudanças que ocorreram ao longo dos anos com os dois mercados, mas pouco ajuda para entender ou prever o preço atual e futuro do mercado de suíno.
Outra análise bastante comum é tentar associar o preço do suíno vivo no mercado brasileiro com o preço da carne no mercado internacional. Comparação que de forma alguma pode ser feita sem levar em conta uma série de observações em relação à fatia de mercado ocupada pela carne suína brasileira no cenário externo. Claro que também ajuda a explicar a situação dos preços, mas em se tratando de mercado internacional a maior contribuição para queda nas cotações internas do suíno é a perda de volume e não o preço da carne no exterior. Nos últimos três anos deixamos de exportar 78 mil toneladas de carne suína, e podemos facilmente chegar a 100 mil toneladas de perdas em 2015.
As cotações mais próximas entre as duas carnes, boi e suíno, se davam muito mais por uma singularidade do mercado brasileiro que tinha um dos preços mais baratos em relação ao mercado mundial de carne bovina, fato que nos últimos 15 anos foi sendo corrigido e hoje temos um preço bastante alinhando com o mercado internacional. Dessa forma, tanto tende a permanecer elevada a cotação do boi gordo quando a diferença de preço entre a arroba do boi e do suíno.
Tanto é verdade que a carne bovina era barata no Brasil que por muitos anos foi a opção de proteína mais consumida no país. Atualmente perdeu espaço para a carne de frango primeiramente pelo fator preço, que aliado à alta qualidade, às diversas opções de consumo e à noção geral da sociedade de tratar-se de uma escolha saudável tornaram a carne de frango a preferência nacional.
Logicamente que o aumento do preço da carne de boi é um fator positivo para o aumento da fatia de mercado para carne suína, assim como o foi para a carne de frango. Somente temos que ter em mente que não há nisso uma correlação direta, natural e inevitável. Não será somente por este fato que nos tornaremos um país de alto consumo de carne suína. É sim uma excelente oportunidade, talvez esteja no alto preço da carne de boi a melhor chance em termos de mercado para o aumento do consumo per capita de carne suína no Brasil. Mas esta oportunidade para ser amplamente proveitosa para suinocultura brasileira terá que ser compreendida e trabalhada pela cadeia de produção.
Há poucos dias argumentei se o consumidor brasileiro tem consciência da diferença de preço entre um quilo de filé mignon suíno e um quilo de filé mignon bovino. É óbvio que ele vê na gondola do supermercado que o preço da carne suína está bem mais em conta do que a carne de boi, mas o quanto ele percebe de valor nesta diferença é que conta para uma possível mudança de opção de consumo. Novamente, não será apenas a diferença de preço entre as duas bandejas de carnes que vai automaticamente redirecionar o brasileiro para comprar mais carne suína.
Em síntese, o preço pago ao produtor pelo quilo do suíno vivo depende de uma série de fatores de mercado, que podem ser facilmente compreendidos para explicar o que já aconteceu mas ainda de difícil predição do que virá para frente. Do mercado de exportação a principal contribuição para queda do preço vem da perda contínua de volumes embarcados para o exterior. Do mercado interno a principal contribuição é a dificuldade do avanço natural do consumo de carne suína, que mesmo guardando uma boa diferença com a carne de boi ainda não é o fator mais relevante para uma troca automática de opção de consumo.
Duas frentes de trabalho se impõe imediatas na reversão da queda do preço do suíno vivo: a recuperação dos volumes perdidos desde 2012 pela carne suína brasileira no mercado internacional e o estímulo ao consumo da carne suína no mercado interno. É preciso aproveitar a excelente oportunidade de preço em relação à concorrência bovina, mas temos que ter em mente que isso precisa ser “contado” ao consumidor brasileiro. Lembremos também que ainda temos duas grandes vantagens em favor do suinocultor que podem ser perdidas no longo prazo, a queda do preço dos grãos, que tem servido de amortecedor para a baixa do preço do animal, e a baixa oferta de suínos para o abate, que tem evitado quedas ainda mais fortes nas cotações do suíno vivo.