O tempo
O melhoramento genético de diferentes espécies torna a mesa do brasileiro mais colorida e saborosa. Depois do fenômeno do abacaxi em gomos, e da uva e da melancia sem sementes, novas pesquisas prometem revolucionar o setor agrícola e impulsionar as exportações.
Em Minas Gerais, a novidade fica por conta de uma espécie de duas variedades de soja, mais palatável e nutritiva, que em breve comporá o cardápio da merenda escolar de centenas de escolas. Desenvolvido desde 2004 por Epamig, Embrapa e Fundação Triângulo, o projeto "Melhoramento Genético da Soja para a Alimentação Humana em Minas Gerais" resultou no lançamento da soja amarela, usada no preparo de saladas, sucos e queijos, e da soja marrom, que pode substituir o feijão ou ser misturada a ele em preparo de pratos como a "sojoada" e a soja tropeira. As duas novas variedades já são comercializadas na região de Uberaba e em breve serão servidas a alunos da rede estadual de educação.
O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) lançou, em junho deste ano, uma nova variedade de feijão, do tipo carioca, denominada IAC Milênio, rico em proteínas, resistente a doenças e que cozinha em menos tempo. O instituto é responsável por outra variedade do grão, o Formoso, com isoflavona, que previne doenças coronárias e crônicas. Ele apresenta 10% da isoflavona encontrada na soja.
Segundo o pesquisador Alisson Chiorato, a quantidade de isoflavona encontrada na variedade Pérola, mais comum no mercado, foi de 0,8 mg/kg, enquanto no IAC Formoso foi de 8,92 mg/kg. "Trata-se de um teor alto, pois o brasileiro come feijão e não, soja", diz Chiorato.
Pacote tecnológico. Ele afirma que o diferencial do IAC Milênio não se restringe a uma característica, mas ao pacote tecnológico composto por qualidade de grão de alto padrão no mercado, com caldo espesso e alto rendimento de panela, assim como alta produtividade: o porte ereto que viabiliza colheita mecanizada. O feijão é resistente à antracnose (doença que danifica folhas e vagens) e à murcha de Fusarium (moléstia da raiz que leva a planta à morte).
"A resistência a essas doenças reduz em cerca de 30% a aplicação de agrotóxicos. Hoje o agricultor tem alto custo para controle da antracnose", frisa Chiorato, observando que o custo total de produção do feijoeiro varia de R$ 2.000 a R$ 6.000 por hectare, sendo que grande parte desse montante envolve produtos químicos de prevenção e controle de pragas e doenças.
Melhora o colesterol. Vem também do IAC uma nova variedade de amendoim com alto teor de ácido oleico, que, além de dobrar a vida útil dos grãos nas gôndolas, ajuda na redução das taxas de triglicérides, aumentando o bom colesterol dos consumidores. O grão lançado neste ano concentra de 70% a 80% desse ácido, enquanto nos materiais tradicionais esse valor oscila entre 40% a 50%.
Outra novidade é a laranja com polpa vermelha com alto teor de licopeno, a mesma substância presente em tomates, com agentes antioxidantes naturais. Batizada de Sanguínea de Mombuca, essa variedade apresenta de 275% a 675% mais licopeno do que a laranja-pera.
Aveia abaixa glicose. Uma nova variedade de aveia, a IAC 8, com elevada quantidade de betaglucano, que ajuda a reduzir pela metade a taxa de glicose no sangue, é outra vedete do instituto, que desenvolve pesquisa inédita de uma espécie de mandioca com o triplo do teor de carotenóide, o precursor da vitamina A. Segundo o diretor-geral do IAC, Sérgio Carbonell, além da busca por maior produtividade e resistência a doenças, essas pesquisas buscam conquistar o paladar.
Na Embrapa de Cruz das Almas (BA), nova variedade de abacaxi, mais doce, resistente a pragas e sem espinhos na coroa chama a atenção de produtores. Segundo o pesquisador Davi Junghans, seis novos híbridos estão sendo estudados e as três variedades já testadas estão sendo cultivadas em diferentes regiões do país.
Potencial
Nativas. Segundo o pesquisador da Embrapa Davi Junghans, o Brasil tem potencial "para ganhar o mundo". É preciso investir na diversidade de culturas como abacaxi, caju e mandioca.