Lucratividade da suinocultura não deve resultar em maiores planteis

Globo Rural

Os suinocultores brasileiros aprenderam com as crises que abalaram o setor nos últimos anos. Hoje, mesmo recebendo preços recordes na venda dos suínos, que foram impulsionados pelo consumo interno firme e pelo bom desempenho das exportações, e com melhora na lucratividade, por conta da redução de custos proporcionada pela queda de preços dos do milho, os criadores não estão dispostos a investir os ganhos na expansão do plantel de matrizes para ampliar a oferta de carne.

O presidente da Associação Brasileira dos Criadores Suínos (ABCS), Marcelo Lopes, argumenta que o setor amadureceu e encara o cenário positivo atual com cautela. Ele observa que o aumento das exportações para o mercado russo, principal destino da carne suína brasileira, se deve a fatores conjunturais, como problemas de doenças em países fornecedores e as restrições ao comércio impostas pelos Estados Unidos e União Europeia por causa do conflito entre a Rússia e a Ucrânia.

Na avaliação do presidente da ABCS, depois que passar o período de turbulência na política internacional as autoridades sanitárias russas devem retomar as práticas de controle do volume de importação da carne suína brasileira, por meio da suspensão da habilitação de frigoríficos, “para atender interesses comerciais”.

"Se houver aumento da oferta, será sentida a partir do segundo trimestre de 2015" (Jurandi Soares Machado, diretor de mercado interno da divisão de suínos da ABPA)
Lopes lembra que recentemente o setor enfrentou duas graves crises. A primeira, em meados da década passada, pegou o setor no contrapé, pois os investimentos no aumento da produção se frustraram com o surgimento de focos de febre aftosa, que provocaram embargos nas exportações brasileiras de carne suína. A segunda ocorreu em 2012, quando os preços do milho dispararam no mercado interno, devido à forte quebra da safra de norte-americana.

O diretor de mercado interno da divisão de suínos da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Jurandi Soares Machado, alerta que mesmo as expectativas de expressivo aumento das vendas para o mercado russo não estão se concretizando, porque a carne brasileira sofre concorrência da entrada clandestina de carne suína chinesa, burlando os embargos impostos pela União Europeia e Estados Unidos. Ele diz que os exportadores também enfrentam dificuldades na hora de receber o pagamento dos russos, por causa das sanções internacionais às operações de compensação bancária.

Segundo o diretor da ABPA, os exportadores brasileiros enfrentam problemas semelhantes nas vendas para a Venezuela, por causa do risco de calote, e também para a Argentina, cujo governo limita a saída de dólares. Os dados até agosto deste ano mostram que as vendas acumuladas de carne suína para o mercado argentino caíram 49% em relação aos primeiros oito meses do ano passado.

Jurandi Machado concorda que o setor aprendeu com as crises e por isso a produção deve se manter estável nos próximos meses, apesar do cenário atual de boa lucratividade. Na opinião do dirigente a expansão da produção brasileira de carne suína deve se manter na mesma proporção do aumento do consumo interno, que absorve 80% do volume produzido. “Os números atuais indicam que a produção do próximo ano não será diferente da prevista para este ano. Se houver aumento da oferta somente será sentida a partir do segundo trimestre de 2015”, diz ele.

Losivanio Luiz de Lorenzi, presidente da Associação Catarinense dos Criadores de Suínos (ACCS), diz que a crise de 2012 foi uma grande lição, pois os prejuízos provocados pela alta de custos obrigaram muitos produtores a arrendar suas granjas, abandonando a atividade. “Houve uma seleção natural e aqueles que sobreviveram estão mais cautelosos e preocupados em aumentar a produtividade, sem investir na expansão do plantel”, afirmou.



Data da Notícia: 03/10/2014
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