ABPA
Faz parte da própria cultura, ao menos para muitos, o cultivo da ideia de mitos. Quanto mais retumbante a mentira, mais convictos são seus crédulos. Esse tipo de "construção de informação", nada científica, dependendo de sua aplicação, causa estragos muitas vezes difíceis de reparar. Para os que têm o conhecimento técnico, fica a necessidade de expor a verdade, numa tentativa de reduzir os danos.
Explico isso com alguns exemplos: o mito da adição de hormônios na criação de frangos, o mito do colesterol no consumo de ovos, a inverdade de que carne suína seria danosa à saúde. Mentiras defendidas de forma apaixonada por alguns desinformados que acabam incentivando a diminuição do consumo dessas proteínas.
O mito do uso de hormônios no frango tornou-se menos frequente a partir da autorização, por parte do Ministério da Agricultura, da veiculação da seguinte mensagem na embalagem: "sem uso de hormônios, conforme determina a legislação brasileira". Na prática, é inviável a adição de hormônios na produção.
Mesmo assim, tem sido uma difícil jornada transmitir ao público que os 9 milhões de toneladas de carne de frango ofertados ao consumidor brasileiro todos os anos cumprem normas nacionais e internacionais de saúde. Dentre essas normas, as que proíbem a adição de hormônios.
Em passos mais adiantados, o ovo hoje é visto quase como "remédio" para o colesterol, por recomendação de nutrólogos e médicos especialistas. Também a carne suína, produto tão saudável que é figura frequente nas dietas hospitalares, é vista de outra forma pelo público.
Recentemente, um novo equívoco atraiu a histeria. Numa interpretação muito subjetiva de um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), passou-se a vender a ideia, em grande parte da mídia e, especialmente, nas redes sociais, de que a ingestão de carne processada seria determinante para o desenvolvimento de câncer.
Infelizmente, omitiu-se a questão mais importante: assim como para qualquer outro alimento, todo o malefício está relacionado ao consumo excessivo.
O próprio autor do relatório explicitou em suas explicações para a imprensa que o risco de desenvolver câncer com a ingestão de carnes processadas é pequeno, ocorrendo apenas diante de um consumo descontrolado, em desequilíbrio com uma dieta saudável.
Quaisquer nutrientes consumidos em excesso poderão ser nocivos à saúde. Um arquivo com perguntas e respostas foi disponibilizado pela OMS com esses esclarecimentos.
Diversos fatores influenciam a ocorrência da doença, como genética, hábitos alimentares, tipos de dieta e outros. Nesse sentido, não é possível apontar um único elemento como o causador.
Além do mais, quem conhece o setor produtivo de cárneos sabe bem que os produtos processados feitos no país são seguros e seguem as rígidas normas internacionais. São compatíveis com uma dieta saudável e equilibrada.
É preciso responsabilidade ao lidar com informações, para evitar difamar ou alimentar mitos e inverdades. Os que atuam na cadeia da proteína animal sentiram-se desrespeitados pela forma deturpada com que o relatório da OMS foi propagado.
É preciso muito cuidado ao processar a informação de maneira sensacionalista. O segredo da boa vida está no equilíbrio, inclusive da informação que se consome.