O setor de transporte, único que pode parar o Brasil, exagerou no uso desse poder na greve que causou transtornos para a maioria dos brasileiros, provocou mortandade de aves e seguirá causando prejuízos por alguns meses. É claro que os usuários de diesel ficaram satisfeitos e serão os que lucrarão com esse embate.
Em Santa Catarina, poucos setores já estimaram prejuízos, mas as perdas serão bilionárias no Estado. O setor agroindustrial do país estimou perdas de US$ 350 milhões nas exportações (R$ 1,3 bilhão) e como Santa Catarina é forte exportador, boa parte disso será catarinense. Uma pesquisa da Fiesc apurou que 70% das indústrias tiveram prejuízos, sem estimar cifras. Levantamento da Fecomércio-SC, divulgado ontem, revelou que 80% das empresas tiveram perdas e os setores de comércio, serviços e turismo deixaram de faturar R$ 350 milhões nesses dias. Em média, o faturamento caiu 32,4%. Quem mais perdeu venda foram os postos, com 90% a menos de produto disponível. E o menor impacto ficou com as farmácias, uma queda de 10%.
Esses prejuízos do setor privado serão replicadas proporcionalmente no setor público. A Secretaria de Estado da Fazenda estima que não só a arrecadação de impostos de maio foi afetada, mas as dos próximos meses também terão perdas porque as empresas terão menos atividades, o que significa menos vendas e menos impostos. O efeito cascata vai também para os municípios. Indignadas com a greve, boa parte das entidades do setor produtivo divulgaram notas ontem defendendo a volta à normalidade. O fato é que todos pagarão a conta com alimentos e serviços mais caros, além de outros transtornos.
Articulação cuidadosa
Na avaliação do governo do Estado, os impasses foram resolvidos com o devido cuidado em Santa Catarina. O governador Eduardo Pinho Moreira teve o apoio de lideranças empresariais, apesar de elas terem intensificado cobranças por soluções rápidas nos últimos dias. Teve quem avaliou que o Estado demorou em adotar ações mais enérgicas, como ocorreram em São Paulo e no Rio. Mas o governo explicou que não era possível usar força porque muitas famílias estavam participando do movimento até domingo. Após os últimos anúncios do presidente Michel Temer para atender os pleitos dos caminhoneiros, muitos catarinenses também consideraram que houve esse atendimento, deixaram a pressão nas ruas e nas redes sociais. O serviço de inteligência de SC detectou isso.
Sem Big Brother
Enquanto a inteligência do governo de SC apurou o nível de mobilização no Estado via redes sociais e outros meios, a Agência Brasileira de Informações (Abim) não levantou nada para alertar o executivo federal sobre o tamanho da mobilização. Isso mostra que, apesar de gastar uma fortuna com a Abim, o país está desatualizado do mundo digital. A propósito, esse poderia ser um serviço de exportação de SC para a União.
R$ 27 bilhões a menos
A Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), após divulgar nota há uma semana declarando apoio à greve devido à alta dos combustíveis, ontem afirmou que é preciso voltar a produzir. Cálculos da entidade apontam que entre os dias 21 e 28 deste mês, o setor deixou de faturar R$ 27 bilhões devido à interrupção do transporte. Para a entidade, as principais pautas da categoria forma atendidas, por isso os caminhoneiros precisam liberar as rodovias. O varejo gera 63% do PIB do país e fatura R$ 715 bilhões por ano, acentua a entidade.
Pibinho
O Brasil fechou o primeiro trimestre com alta de apenas 0,4% do PIB. O mercado estava esperando menos, 0,3%. Mas para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, os dados de ontem mostraram que a recuperação da economia é marcada pela descontinuidade.
Mobilidade sustentável
A falta de combustíveis com a greve chamou a atenção sobre a importância dos carros elétricos. É exatamente esse o tema do primeiro dia 9º Seminário Energia + Limpa, que aconatece segunda e terça-feira, na sede da Fiesc, em Florianópolis, numa iniciativa do Instituto Ideal de Energias Alternativas. Os dois debatedores têm ampla experiência na área. Iêda Maria Oliveira é diretora da Eletra, empresa brasileira de ônibus elétricos e trólebus, de São Bernardo do Campo, SP. Com 30 anos de atividade, a Eletra desenvolve soluções inovadoras em transporte sustentável. Outro palestrante será Luiz Fernando Oliveira, chefe de projetos de engenharia de veículos elétricos na Renault do Brasil. A marca fabrica quatro veículos elétricos.