Marcos Lopes, diretor Técnico da Topigs Norsvin, explica
como o avanço genético está transformando maternidade, nutrição, bem-estar e o
futuro tecnológico das granjas
O progresso genético
alcançou uma velocidade inédita na suinocultura, elevando significativamente o
número de leitões por matriz e exigindo uma revisão completa das práticas de
manejo. Essa evolução demanda novas formas de planejar granjas, ajustar estruturas,
repensar o cuidado materno e aprimorar a nutrição. Marcos Lopes, diretor
Técnico da Topigs Norsvin, detalha como essa mudança impacta todas as fases
produtivas, os desafios que surgem com maternidades superpopulosas, o papel da
inteligência artificial no manejo dos próximos anos e a importância crescente
de sustentabilidade e rastreabilidade em um mercado cada vez mais exigente. F&F
– De que forma a genética passou a influenciar o manejo em todas as fases
produtivas?
Marcos Lopes – A principal influência da genética é o progresso
genético. Os resultados nos últimos anos vêm sendo transformados em diferentes
características: se a gente tinha lá atrás granjas que produziam 25
leitões/ano, hoje elas já chegam a 40 leitões/ano.
A partir do momento que é feito todo esse ajuste de produtividade, com o
aumento em desempenho, todo o processo dentro de uma granja precisa mudar, até
mesmo a forma de planejar essa granja. Qual vai ser o fluxo da quantidade de
espaços que a gente precisa, por exemplo. Tudo isso vai ter uma influência
grande da genética, devido aos novos resultados alcançados.
Se hoje temos mais leitões, é preciso manejar de forma diferente a maternidade,
para garantir que os leitões nasçam bem e continuem bem, inclusive nas
primeiras horas, para poder ter acesso ao colostro com qualidade e boa
quantidade.
Então todo o progresso genético, essa mudança no perfil de produtividade dos
animais na granja, é a forma com que nós vamos influenciar o manejo. O manejo
então que era feito antes já não pode mais ser utilizado hoje, porque tudo
mudou. Se existe uma maior produtividade com mais leitões, você precisa tratar
essa fêmea de uma maneira diferente. Não só nesse manejo de cuidado com os
leitões e de cuidado com a fêmea, mas também pensando em toda a parte
nutricional.
As necessidades que essas fêmeas tinham no passado, com a produtividade mais
baixa, hoje já são diferentes. Se é um animal que tem uma maior produtividade e
uma maior produção de leite, também vai ter uma maior demanda por nutrientes.
Então esse manejo nutricional também precisa ser diferenciado.
F&F – Quais são os maiores gargalos atuais no manejo
de leitões e matrizes?
Marcos Lopes – Hoje a questão toda do manejo se resume bastante a
essa quantidade de leitões e para garantir que todos os leitões possam ter uma
mamada de colostro adequada. Isso vai depender de como é feito esse manejo
(como nas primeiras horas de vida dos leitões, por exemplo, para garantir que
todos os leitões tenham a possibilidade de chegar até o teto e conseguir
mamar).
Outro fator extremamente importante é garantir que as fêmeas têm, de fato, o
número de tetos adequado, de acordo com o número de leitões que elas estão
produzindo. Dentro da Topigs Norsvin, temos investido há muito tempo nesse
melhoramento genético para maior habilidade materna. Para ser uma fêmea que
tenha uma quantidade de tetos na mesma linha que a quantidade de leitões
nascidos vivos. Então isso reduz a necessidade de intervenções para garantir
alimento para cada leitão que está nascendo. Em outras linhagens genéticas,
onde não ocorre essa equivalência, acaba sendo muito mais trabalhoso fazer o
manejo de leitegada de acordo com o número de tetos.
O manejo de colostro é algo extremamente importante. Se o leitão não mamar ali
os seus 250 gramas de colostro nas primeiras horas de vida, isso vai
provavelmente comprometer o resultado desses animais nas fases seguintes.
Existem vários estudos que mostram isso, essa influência de uma boa injeção de
colostro com relação à performance posterior desse animal.
Hoje também em matrizes de alta produtividade, em algumas outras linhagens, é
possível encontrar um aumento de mortalidade de fêmeas, o que não ocorre nas
linhagens da Topigs Norsvin, justamente porque a gente acaba fazendo esse
melhoramento genético balanceado para garantir que o animal tenha maior
produtividade, maior longevidade e menor mortalidade em todas as fases.
Dentro dos desafios, então, acho que é preciso adaptar granjas mais velhas às
fêmeas atuais, porque precisam de mais espaço (já que para desenvolver um maior
número de tetos as fêmeas ficaram mais longas) tanto na maternidade quanto na
gestação.
F&F – Quais inovações tecnológicas devem dominar o
manejo suíno nos próximos 20 anos?
Marcos Lopes – Não tem como não pensar em inteligência artificial.
Hoje as nossas granjas núcleos estão cada vez mais tecnológicas, inclusive com
a presença de câmeras para identificar diferentes tipos de fenótipos e
comportamentos, isso também é algo que vai trazer bastante resultado para as
granjas inclusive comerciais nos próximos anos. O uso das câmeras para poder
verificar todo o comportamento, a questão de agressividade, já identificar com
antecedência animais que possam estar começando a ficar doentes (que não apresentaram
sinais clínicos, mas eles têm uma mudança de comportamento) etc. Tudo isso vai
ser algo extremamente importante para os próximos anos.
A inovação tecnológica vem muito com a questão de utilização de câmeras e até
de novas ferramentas que a gente não conhece hoje, mas que estão sendo
desenvolvidas com muita rapidez. Então, o uso da inteligência artificial no dia
a dia, dentro de uma granja, vai ser extremamente importante para tentar
identificar padrões dentro de uma granja, buscando aqueles animais que tem uma
maior produtividade, ou animais que venham a apresentar algum tipo de
enfermidade, que possa comprometer a produção. Isso com certeza vai ser um dos
grandes pontos a serem trabalhados no futuro bem próximo.
F&F – Que papel terão sustentabilidade e
rastreabilidade na evolução do manejo?
Marcos Lopes – Não só na evolução do manejo, mas são aspectos
extremamente importantes para a suinocultura no geral. Sem sustentabilidade,
não é possível trabalhar. Por isso buscamos cada vez mais fêmeas que tenham
produtividade, animais que tenham maior eficiência – e a eficiência não é só
falando em eficiência alimentar, é a eficiência de produção como um todo,
buscando animais que vão entregar uma maior produção com menor uso de recursos
(não só ração, mas também medicamentos etc).
Buscamos também um animal que tenha mais robustez e menor mortalidade. O
objetivo é que a gente possa escolher quais animais retirar da granja, e não
retirar porque o animal morreu. Os descartes são voluntários devem ser muito
superiores aos descartes involuntários. Então, essa parte de sustentabilidade é
a gente poder utilizar os recursos de uma maneira muito mais eficiente para ter
uma produção mais eficiente.
E a rastreabilidade envolve olhar cada vez mais para cada indivíduo e é
extremamente importante também. Em alguns exemplos no exterior, por exemplo o
pacote de carne tem um QR Code que você consegue ter acesso aos dados da granja
onde ele foi produzido, saber quais foram os medicamentos utilizados ao longo
da vida, por exemplo. Isso contribui bastante para a utilização de informação voltada
a uma produção de suínos cada vez mais sustentável e rentável, o que passa por
tecnologia e rastreabilidade.