Avisite
Interpretações equivocadas acerca das causas das recentes e contínuas altas do frango podem causar problemas ao setor. Ontem, por exemplo, diversos órgãos de imprensa reproduziam matéria na qual se afirmava que as altas vêm sendo impulsionadas por uma forte exportação da carne de frango. E, citando que em julho “as exportadoras atingiram receita recorde”, concluíam que tal cenário contribuiu para diminuir a oferta no Brasil e ajudou as elevar as cotações internas.
Nada mais falso. Ainda que, nominalmente, o volume exportado em julho tenha aumentado em relação ao mês anterior e ao mesmo mês do ano passado, em termos reais (isto é, levando em conta o número de dif
as do mês) foi menor que o registrado em abril e maio, meses em que, internamente, o frango sofreu profundas baixas.
Igualmente distorcida é a afirmação de que a receita cambial de julho apresentou novo recorde: este ocorreu em abril passado e ainda não foi superado. E se nos sete primeiros meses do ano a receita cambial acumulada pela carne de frango aumentou 8,8% foi devido a uma “puxada” no preço médio, não ao aumento de volume que, pelo contrário, continua sendo 3% inferior ao de idêntico período do ano passado.
Mas, afinal, o que motiva as presentes altas? Início de mês, reinício do ano letivo, aproximação do Dia dos Pais, intensificação do período de entressafra das carnes – todos esses fatores podem ser considerados causas menores do movimento atual. Porque o desencadeador principal da situação ora observada não data de hoje ou do mês passado, vem de um ano atrás – do instante em que os custos das matérias-primas básicas do setor simplesmente explodiram, pegando o setor no contrapé, ou seja, totalmente descapitalizado e acumulando prejuízos anteriores.
Abandonada então ao “Deus dará” (aliás, a filosofia oficial foi apoiar apenas algumas “seletas” grandes empresas), a maior parte da avicultura brasileira ficou impossibilitada de repor normalmente seu plantel reprodutor – que hoje faz falta e determina as altas ora registradas, situação que tende a perdurar por boa parte (senão pela totalidade) do segundo semestre.
Repetindo, pois, o que foi dito no título desta matéria, a causa real das altas vem sendo ignorada. E isso pode ocasionar problemas para o setor, pois nada impede, por exemplo, que alguma autoridade preocupada com o controle da inflação sugira o contingenciamento das exportações – o setor já enfrentou isso antes.
Por outro lado, é fundamental que se coloquem os pingos nos “is” corretos. Pois o que vem sendo corriqueiramente mencionado se restringe às variações de preço mais recentes, ignorando-se o passado do setor. O frango abatido, por exemplo, já aumentou mais de 10% nos oito primeiros dias do mês – o que ninguém contesta. Mas o que não se diz é que seus valores atuais (base: atacado paulistano) são inferiores aos registrados há um e há dois anos, nesta mesma data.