Expulso em 2017, suíno nacional espera fim da Copa para voltar à Rússia

Gazeta do Povo / Giorgio Dal Molin

O setor de carne suína vem sofrendo as consequências de uma “russo-dependência”. Maior comprador dessa proteína animal brasileira, com cerca de 40% das remessas ao exterior, a Rússia embargou as importações da carne em novembro de 2018.

Entre janeiro e maio, foram exportados apenas 136 mil quilos ao país. No ano passado, no mesmo período, já tinham sido 107,6 milhões. “Só conseguiram manter frigoríficos menores que tinham contratos mais antigos e que não poderiam ser interrompidos, com alguns cortes diferenciados”, afirma o presidente da Associação Paranaense de Suinocultores (APS), Jacir Dariva.

O motivo oficial é a presença da substância ractopamina, identificado em remessas e proibidas no país euro-asiático. Mas existem suspeitas de um ‘golpe econômico’ para fortalecer a produção interna da Rússia em um momento de alto consumo: a Copa do Mundo.

“O grande bloqueador é o ministro da agricultura russo, produtor de suínos e trigo, que encontrou vários ingredientes para justificar a proibição. Além da ractopamina, tivemos a Carne Fraca. Talvez estejam esperando a Copa para depois liberar o produto brasileiro”, afirma Paulo Molinari, analista da consultoria Safras & Mercado.

Há ainda quem desconfie de uma retaliação envolvendo o mercado de trigo, tentando forçar o Brasil a iniciar as compras do produto russo. “Não acho que tenha ver com o trigo, mas não vejo expectativa de melhoras neste ano”, completa Molinari.

No prejuízo

Os produtores estão cientes da situação caótica que enfrentam, especialmente os independentes, sem contratos fixos com a agroindústria. Giovani da Silva, de Pato Branco, é um deles: “Cheguei a receber R$ 160 [por leitão de 25 kg]. Hoje recebo R$ 120, mais ou menos”. Ele afirma que os produtores estão “pagando para trabalhar” e que algumas granjas menores já fecharam.

Além do embargo russo, que obriga os frigoríficos a buscar novos mercados, eles reclamam do crescimento dos custos de produção. A saca do milho, que em 2017 custava aproximadamente R$ 25, agora ultrapassa R$ 40. “Com a safrinha o valor do deve cair, mas é importante observar que o preço do farelo de soja quase dobrou”, afirma o analista da Safras & Mercado. Em 2017, em junho, o custo do farelo girava em R$ 1.000 por tonelada. Atualmente, passa de R$ 1.500.

“Somente o estado do Paraná deve ter abatido um volume em torno de 4 milhões de suínos, comercializados com um prejuízo em média de R$ 70 por animal, o que já dá para se ter uma ideia do tamanho do prejuízo para a suinocultura paranaense”, ressalta Jacir Dariva.

Outro componente adicional é a polêmica tabela do frete nacional, que eleva ainda mais os custos de produção, lembra Paulo Molinari.



Data da Notícia: 28/06/2018
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