Wall Street Journal
... mais interessantes em novo nicho de carne diferenciada.
As gôndolas dos supermercados dos Estados Unidos sempre foram recheadas de carnes dirigidas a clientes especiais, que exigem produtos feitos exclusivamente no pasto ou orgânicos, mas uma nova mania vem cativando cada vez mais o gosto dos consumidores. São os cortes conhecidos como de “origem única”. Grandes redes, como Whole Foods Market Inc., FreshDirect e Amazon.com Inc estão aproveitando as operações que já garantem proteína vermelha direto da fazenda à loja ou casa, para saciar os desejos de fregueses que querem rastrear hambúrgueres, bifes e bacon a um único animal. “Eles querem saber de onde vem, onde nasceu, onde foi criado, onde foi abatido o animal. E que toda a carne comprada venha de uma só cabeça”, explica o diretor de alimentos frescos da associação americana de supermercados Food Marketing Institute, Rick Stein.
Outros varejistas, como Honest Beef Co., estão fornecendo cortes diretamente aos consumidores, pulando o frigorífico intermediário e as redes de varejo, semelhante ao que sempre fez os tradicionais serviços de entrega de carnes, como o Omaha Steaks International Inc. Hannah Raudsepp, fundadora do Honest Beef, compra os animais diretamente da fazenda de sua família, que fica em Nebraska Sandhills. Ela envia a um pequeno frigorífico perto do seu açougue, que abate e faz os cortes. Já ela, matura a carne a seco, peça por peça. Depois, ela atende os pedidos feitos online com a carne que vai chegando, enviando diretamente aos consumidores, que pagam um valor mínimo de US$ 85 por bifes e hambúrgueres “de um único animal”. “Dominamos todas as etapas. Somos uma empresa que domina cada passo de nossa curta cadeia de fornecimento”, completa Hannah.
São iniciativas que procuram ocupar parte do espaço que hoje está sob comando dos tradicionais processadores de carne de larga escala, como Cargill Inc. e Tyson Foods Inc. que centralizam e conectam uma imensa cadeia, que envolve milhares de pecuaristas em todo o país, varejistas e distribuidores de alimentos.
As vendas de carne convencional no ano passado cresceram menos de 3% em valor diante de um avanço de 12% da carne rotulada como “natural” e um aumento de 23% nas vendas de carne “livre de antibióticos”, segundo a empresa de pesquisas Nielsen. “Todas estas exigências crescem diante da demanda da sociedade moderna por saúde e bem-estar”, justifica Mike Olson, diretor da Nielsen. A chance de que vendedores de carne de origem única, como a Raudsepp, coloquem em risco negócios de quatro companhias gigantescas, que compram mais de 80% do plantel bovino dos Estados Unidos e produzem cerca de 8 milhões de toneladas de carne por ano é mínima.
Montar uma cadeia de fornecimento de um só animal é caro e complexo. As vendas de carnes rotuladas como “minimamente processadas” totalizaram US$ 1,3 bilhão em 2015. É uma fração minúscula das vendas da indústria americana de carnes, que alcança negócios calculados em US$ 200 bilhões ao ano. É fundamental que os consumidores estejam dispostos a pagar valores mais altos por esses cortes diferentes. Além de um pedido mínimo em dinheiro, a Honest Beef cobra US$ 18,74 por quilo de carne dry aged moída, o dobro do valor cobrado no mercado tradicional. Os analistas do mercado e de comportamento do consumidor de alimentos explicam que os vendedores da “carne única” estão aproveitando a demanda por carne que as pessoas enxergam como eticamente produzidas. “Como existem poucas propriedades atuando neste nicho, a Whole Foods teve que investir em propriedades e plantas de abate para suprir a demanda dos clientes por produtos do animal inteiro”, explica o responsável pela compra de carne da rede varejista, Theo Weening. A empresa, por exemplo, comprava vinte suínos por semana da Thompson Farms in Dixie, na Georgia, durante vários anos. Recentemente, a Whole Foods investiu na produção e no processamento da propriedade e agora recebe 120 animais por semana. “Se não fosse por nós, eles não estariam no negócio”, reforça Weening.
A rede varejista de internet Amazon.com, começou a vender carne moída de uma “única vaca” em suas lojas de alimentos frescos há quatro meses e, desde então, entrou com um pedido para registrar a marca. O produto é vendido em várias regiões por US$ 22 o quilo, e descrito como sendo uma mistura de cortes de músculo de vacas Wagyu criadas em uma fazenda da Califórnia. Ironicamente, restaurantes e supermercados que moem a carne moída também oferecem hambúrgueres “de origem única”, mas a maioria dos produtos é resultado de uma combinação de carnes magras e gordas, que sobram após serem feitos cortes de maior valor, como T-bone. Isso significa que uma embalagem de meio quilo de carne moída comprada nas lojas pode conter carne de centenas de animais. “Um hambúrguer feito de uma única vaca não é tão comum como você pode imaginar.
E os consumidores estão entendendo isso. E voltando para comprar de novo”, aponta Nell Rona, relações públicas da Amazon. O hambúrguer “Single Cow”, desenvolvido em parceria com um fornecedor, é o único produto que a gigante do setor de comércio eletrônico vende exclusivamente nas lojas Fresh, entre cinco mil itens. Quando profissionais da loja online FreshDirect começaram a viajar para a Pensilvânia e Nova York, tentando convencer os pecuaristas a instigar a cadeia de fornecimento dos supermercados, a ideia foi recebida com muito ceticismo. “Era mais um grupo de garotos de Nova York dizendo a eles o que fazer. Pois hoje os céticos estão caindo. A demanda por um corte de vaca identificada, única, de uma fazenda reconhecida, vem crescendo desde o ano passado. Pois hoje nossa empresa só decide a quantidade do produto que vai colocar no mercado de uma só vez”, justifica Stefan Oellinger, comprador de carnes sênior da companhia Long Island City, do Estado de Nova Iorque.