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O jornalista de economia da Globonews e da Rádio CBN João Borges abriu o 12º Simpósio Técnico de Avicultura, nesta terça-feira, em Florianópolis, ressaltando o equilíbrio econômico catarinense. “Santa Catarina sempre me chamou a atenção por ter um modelo de economia equilibrado, com uma indústria de relevo, que consegue estar inserida no mercado mundial e gera indicadores econômicos invejáveis para o resto do Brasil”, disse.
Em cerca de uma hora de palestra, Borges, que cobriu todos os planos econômicos desde a década de 1980, trouxe números e fatos do passado – desde a inflação de dois dígitos ao mês no governo José Sarney – dados do presente e reflexões sobre o futuro do País.
O jornalista apresentou problemas de gestão de diversos governos. Segundo ele, o Plano Real foi capaz de fazer o País sair da hiperinflação sem cair na recessão, mas a desvalorização do real que se seguiu, em 1999, ainda sob o governo FHC, saiu do controle. Mesmo assim, o País não caiu em recessão. O câmbio resolveu o problema da competitividade do Brasil.
Em 2001, lembrou, houve outro problema grave de gestão, o apagão. “Me recordo de que os especialistas já vinham alertando o governo (sobre o risco de apagão), que não ouviu”.
Na avaliação de Borges, se a economia tivesse mantido em 2001 o ritmo de crescimento registrado nos anos anteriores, Lula não teria sido eleito. “Todos estariam satisfeitos”, disse.
Lula assumiu com superávit nas contas públicas, herdado de FHC, e na visão do jornalista o petista foi capaz de manter. “Ele mudou um pouco o discurso mas manteve isso, vivemos um período de ouro, com uma equipe com (Antônio) Palocci, Henrique Meirelles”. Em seguida, vieram o Pré-Sal, a sede da Copa do Mundo de Futebol, a sede das Olimpíadas. De acordo com Borges, o problema começou nesse cenário, quanto o excesso de otimismo contaminou todo o governo, que passou a cometer excessos. O gasto público subiu de forma descontrolada, autorizaram-se contratações, planos de carreira para o funcionalismo, compra de refinarias.
Segundo o jornalista, o primeiro momento do governo Dilma Rousseff fez, segundo Borges, o que tinha que ser feito: começou corrigindo os excessos herdados. “Mas, quando chega em 2012, percebeu-se que o País não cresceu de 4% a 4,5%, que era a meta dela, e um dos assessores do Ministério da Fazenda me disse: ‘aí eles ficaram loucos”. Ocorreu então o descontrole nos empréstimos do BNDES, a contenção da tarifa de energia elétrica, a quebra da Petrobras com anos de políticas equivocadas. Em 2015, quando a crise já era evidente, Dilma chamou Joaquim Levy para o ministério da Fazenda numa tentativa de consertar os rumos. Sem qualquer afinidade com a presidente, no entanto, Levy conseguiu cumprir a tarefa. “Foi quando ocorreu crise econômica e política juntas”, explicou.
GASTO COM PESSOAL
A palestra trouxe números de gasto com pessoal nas últimas décadas. O pico, de 4,6%, aconteceu sob o governo Lula, “mas havia uma receita que comportava”. Naquele momento, relatou Borges, diversos economistas alertaram que, com o crescimento que se apresentava, seria possível tomar medidas para zerar o déficit total do País em dez anos, conforme alertaram assessores econômicos do Planalto. O conselho, no entanto, não foi ouvido.
A relação de gasto com pessoal caiu e depois voltou a subir. Nos últimos dois anos, ficou no patamar de 4,4%, em um cenário muito diferente dos anos Lula no que diz respeito ao PIB.
DÁ PARA SER OTIMISTA
Na avaliação de Borges, o País tem saída e há muitos investidores externos de olho no país aguardando o momento de voltar a apostar no Brasil. “Tem saída, mas são necessárias ações efetivas”. Não adianta, segundo ele, se desgastar politicamente com reformas de austeridade pela metade, que acabam não tendo a efetividade que deveriam.
“A clareza de que estamos muito perto do abismo talvez seja o choque de realidade para o presidente que ganhar as eleições não deixar de corrigir o que é preciso. E quem ganhar agora tem um histórico muito claro de que não adianta só ganhar a eleição, tem que corrigir. O povo está cansado”.
Ele ressaltou que, a despeito da composição do Congresso, a atuação do presidente é fundamental para levar as reformas a cabo. “O que aprendi em todos esses anos em Brasília é que nada se aprova no Congresso sem o empenho e a liderança do presidente da República”, disse. “Esse Congresso é o mesmo que rejeitou medidas de ajuste fiscal da presidente Dilma, aprovou impeachment de Dilma, aprovou medidas necessárias e depois pauta bomba contra o presidente Michel Temer. Os animais são os mesmos, mas o comportamento muda conforme o ambiente”.