Depois de aprontar com a inflação, El Niño bagunça o PIB

Valor Econômico

Tudo que o Brasil não precisava neste ano pródigo em turbulências nos fronts político e econômico era que um de seus principais alicerces fosse atingido por um irrefreável infortúnio sem qualquer relação com os demais problemas que o afetam. Mas, no primeiro semestre, o clima foi desfavorável ao campo como há muito não se via, e o agronegócio brasileiro acabou por produzir alguns resultados que, ao contrário do que normalmente acontece, aprofundaram indicadores negativos que mantêm o país em estado de alerta. Nos primeiros meses do ano, o mais visível desses resultados negativos foi a forte alta dos preços de alimentos básicos como arroz, feijão, hortaliças e carnes ­ que, em menor escala, seguem a exercer pressão sobre a inflação. Mas, como apontaram os dados divulgados pelo IBGE sobre o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, os reflexos deletérios da retração da oferta de produtos agrícolas sobre a economia do país vão além da alta dos preços dos alimentos.

Com as dezenas de milhões de toneladas de grãos perdidas na safra 2015/16 em virtude de intempéries ­ sobretudo a seca em polos do Centro­Norte e o excesso de chuvas em regiões do Centro­Sul, marcas do fenômeno El Niño ­, o PIB da agropecuária caiu 3,1% de abril a junho em relação a igual intervalo de 2015. O IBGE lembra em sua análise que esse resultado, que leva em consideração basicamente volumes, foi determinado por "decréscimo na estimativa de produção anual e perda de produtividade"de culturas como milho, arroz, algodão, feijão e soja. No caso do milho, a produção total em 2015/16, conforme o IBGE, foi pouco inferior a 68 milhões de toneladas, 20,5% abaixo do ciclo anterior. Foram 17 ,5 milhões de toneladas a menos, a maior parte perdida na segunda safra, responsável pela maior parte da oferta total do cereal. Apenas na segunda safra, cuja colheita é liderada por Mato Grosso e concentrada no segundo trimestre, a queda na comparação foi de 13,4 milhões de toneladas, ou 23,8%.

Não é pouca coisa, tendo em vista que o milho é o segundo grão mais cultivado no país, atrás apenas da soja. A soja gerou números menos negativos que o milho na contagem final dos volumes, mas nem por isso desprezíveis. A redução da colheita foi de 0,9% (830 mil toneladas), para 96,3 milhões de toneladas. Mas, como a área plantada havia crescido mais de 10%, essa perda significa bem mais que um simples tropeço. Mas, apesar do protagonismo de soja e milho ­ líderes na colheita de grãos, vitais na alimentação humana, locomotivas das exportações do país e principais insumos para as cadeias produtivas de carnes de frango e suína ­, nenhuma outra dupla atraiu tanto a atenção dos consumidores neste ano quanto arroz e feijão.



Data da Notícia: 01/09/2016
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