Valor Econômico
Uma crise “sem precedentes” ameaça atingir a indústria brasileira de carne bovina, de acordo com a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). A associação avalia que a crise conjuga três fatores que não costumam andar juntos: retração do consumo interno de carne bovina, “difícil crescimento” das exportações e apreciação do real.
“Está muito próxima a situação de fechamento de unidades e desemprego, algo que não imaginamos que pudesse vir a ocorrer tão cedo”, advertiu o presidente da Abrafrigo, Péricles Salazar, em nota. Em 2015, dezenas de frigoríficos já foram paralisados no país, em um esforço da indústria para adequar a capacidade de abate à oferta de gado disponível.
De acordo com a Abrafrigo, a queda do consumo de carne bovina no Brasil é o principal fator da crise que pode atingir o segmento. Citando dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a associação lembrou que o consumo per capita de carne bovina no Brasil já foi de cerca de 40 quilos por ano, mas agora está em 32 quilos por ano. Além disso, a tendência é que o consumo se reduza ainda mais devido à queda da renda no país.
O “difícil crescimento” das exportações de carne bovina é outro fator apontado pela Abrafrigo. De acordo com a associação, a queda dos preços do petróleo afetou a demanda de clientes relevantes como Rússia e Venezuela pela carne bovina do Brasil.
Apesar disso, os dados apontam crescimento das exportações de carne bovina. Segundo dados compilados pela Abrafrigo, os embarques do produto somaram 712 mil toneladas no primeiro semestre, aumento de 12,1% na comparação com igual período do ano passado. Na mesma base de comparação, a receita com as vendas ficou estável, em US$ 2,7 bilhões.
Mas a valorização do real perante o dólar também vem reduzindo a rentabilidade das exportações. “As exportações, que compensavam a dificuldade de gerar resultado financeiro com o mercado interno, perderam rendimento com a desvalorização cambial e alta da arroba. O dólar abaixo de R$ 3,50 como está atualmente não ajuda em nada o setor”, acrescentou Salazar.