G1
Como manter a criação quando falta água? Criadores de Santa Catarina, onde há muitas granjas de porcos e aves, estão investindo na captação da água da chuva. A ordem é guardar quando sobra, para ter quando falta.
Márcia era empregada doméstica. Leocir era pedreiro. Juntos, eles resolveram ir atrás do sonho de uma vida melhor - juntaram economias e viraram criadores de suínos. “É uma vida mais saudável, você fica perto do campo. O meu esposo foi criado no campo. O sonho dele era voltar para o campo. Então a gente deixou a cidade e veio para cá”, diz Márcia Miglioretto.
A criação fica na cidade de Concórdia, e tem 1.300 animais na fase de terminação. Eles chegam para Márcia pesando em torno de 20Kg e depois de cinco meses são entregues ao frigorífico com cerca de 100Kg. Durante este período, comem bastante e bebem muita água.
Toda a água que abastece a criação vem de um poço artesiano que, até bem pouco tempo atrás, tinha 124 metros de profundidade e produzia 1.000 litros de água por hora. Para conseguir uma vazão maior, o proprietário Leocir Miglioretto gastou R$ 25 mil e aprofundou mais 110 metros, mas a vazão não mudou. Leocir conta que a preocupação com a água é muito grande: “Porque não tem mais fonte de água na minha terra. Eu tenho só o poço artesiano que alimenta de água para mim”, afirma ele, que ainda enfrenta estiagem de até 30 dias em alguns períodos.
O abastecimento de água é problema para muitos criadores do sul do país. Como solução, eles encontraram uma alternativa usada há muito tempo no Nordeste: a construção de cisternas. Mas lá no Sul a cisterna é diferente: é enorme. Outra diferença, como explica Paulo Baldi, técnico em agropecuária da Embrapa, é que ela não é voltada para o abastecimento da casa, mas para a manutenção da criação. “Hoje a cisterna é importante numa propriedade, principalmente para garantir uma água num período de estiagem e evitar que se utilize uma água de um poço artesiano, uma água tratada, uma água que seria utilizada para consumo humano, para limpeza de instalações. Então se você guardar no período que tem a água da chuva, para o período que não tem, vai ser vantajoso para o produtor".
O sistema todo funciona assim: a chuva cai no telhado do galpão da criação, escorre para as calhas, instaladas nas laterais e vai para um pré-filtro, onde ficam retidos folhas e resíduos maiores. A primeira água é descartada e o resto vai para filtros com britas. Já mais limpa, a água é armazenada na cisterna, que é coberta e fechada para impedir a entrada de luz solar e de animais – inclusive mosquitos. Segundo Paulo Baldi a água é boa: “Nós já fizemos vários trabalhos aonde deu água com potabilidade, livre de coliforme fecal. Mas tudo isso porque a gente precisa de todo um sistema.
O criador Marcos Munaretto construiu a cisterna há alguns anos, para garantir água para suínos e vacas, e só vê vantagens: “É bem simples [a manutenção]. No descarte da primeira água da chuva, tem a caixa que faz e depois a gente elimina. Parou a chuva, você tem que eliminar a água que fica no fundo falso da caixa. E, no mínimo duas vezes por ano, lavar as pedras ou trocar, quando não tem mais condições de lavar. Mas é bem simples e o custo é baixíssimo”, conta ele que antes de ter a cisterna, em tempos de estiagem precisava buscar àgua nos rios em volta da propriedade. “Eu chegava a percorrer cinco quilômetros para buscar água. Se não tiver cisterna, pode desistir dos bichos”.
Márcia e Leocir não querem desistir dos bichos. Procuraram economizar água fazendo a limpeza com varrição a seco e instalaram um bebedouro automatizado, que só libera água quando o animal vai tomar. O banho também está limitado.
Leocir, com sua habilidade de pedreiro, já construiu novas baias e quer aumentar a criação – de 1.300 animais, pretende chegar a 1.900. Mas com isso, o consumo de água também aumenta. “Hoje tá em torno de 15 a 17 mil litros [por dia]. Quando tiver 1.900 animais, vai para 20 a 25 mil litros, por dia”, calcula Leocir. Por isso, o novo investimento do casal é uma cisterna, que já está sendo escavada. A construção é demorada e a primeira exigência é ter espaço. Ela deve ficar bem ao lado do galpão, para facilitar o trajeto da agua. Depois do espaço escavado, a manta preta que vai forrar a cisterna é esticada e colada a quente – não pode ficar nenhum buraco por onde a água possa vazar. São vários homens para carregar o material pesado e um bom tempo até esticar e posicionar a manta no lugar. Aí vem a fixação e a colocação dos arcos de metal, que darão sustentação à cobertura. Enquanto isso, outra equipe trabalha na instalação das calhas.
Quando a cisterna ficar pronta, ela será capaz de armazenar 500 mil litros de água da chuva - quantidade suficiente para abastecer toda a criação de suínos por 25 dias, mesmo que não haja mais nenhuma fonte de água. Ansiosos, eles acompanham a construção: “Uma tranquilidade de saber que eu vou ter uma água armazenada e que meus animais não vão passar necessidade quanto a isso”, conta Márcia, que acredita que o investimento vale o benefício. “Se eu parcelar, vou pagar R$ 30 mil. Se pagar à vista, R$ 15 mil, diz Laercio. Após o investimento e o aumento da quantidade de animais, ele deve ter uma renda de R$ 15 mil a R$ 18 mil maior. Ou seja, já paga a cisterna.
Não é barato, mas tem algumas empresas que fazem a construção e o produtor que não tem recursos próprios pode procurar um financiamento, como explica Paulo Baldi: “Vai procurar uma linha de crédito, através da Secretaria da Agricultura, da prefeitura do município dele, através de Emater, num órgão que presta assistência para o produtor rural.