Folha de S. Paulo
A situação interna no fornecimento de milho e de farelo de soja é tão complicada que as indústrias consumidoras querem, ao lado da SPA (Secretaria de Política Agrícola), iniciar conversas com entidades de produtores nas próximas semanas. Já não se trata apenas de pagar muito por esses produtos, mas da ausência deles no mercado, diz Francisco Turra, da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) e ex-ministro da Agricultura.
Turra diz que as empresas consumidoras querem reuniões com produtores para se adequar à nova realidade de mercado e garantir o abastecimento interno. A ausência de produto internamente coloca em risco a produção de carnes, afeta o mercado de trabalho e pode chegar ao consumidor final. O também ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli diz que o milho é o produto da vez no país. A produção será excepcional nos próximos anos, mas só a iniciativa privada vai resolver essa questão. "Produtores e consumidores precisam achar um meio de cooperação." Ele acredita que em 15 anos a iniciativa privada poderá elevar a produção nacional de milho para algo próximo a 200 milhões de toneladas. Atualmente, está perto de 80 milhões por ano. Glauber Silveira, produtor e ex-presidente da Aprosoja (entidade que congrega produtores de soja e de milho), adverte, no entanto, que a situação sempre foi muito cômoda para as indústrias. Agora elas terão que se preocupar mais, não só com a oferta do produto, mas com os meios de comercialização.
O governo foi ineficiente na política de estoques neste ano e este é um momento de transição que só será sanado com importações, diz ele. As tradings adquiriram 70% da produção de Mato Grosso —maior produtor— e, dependendo da quebra de produtividade, o percentual pode chegar a 90%. Para o futuro, Silveira acredita que o governo tem de entrar nesse mercado, mas para criar mecanismos de garantia e de seguro das operações feitas entre a iniciativa privada. "Como fica se um produtor fizer um contrato de venda no início da safra com um granjeiro e este, por causa de redução de preços do milho, rompê-lo? As tradings não rompem contratos", diz ele. Portanto, para as negociações futuras, é necessária a criação não só de instrumentos adequados como de tradição de negócio, diz Silveira.