Com plantio de março, milho safrinha fica exposto a um risco climático bastante elevado

SF Agro

Em Goiás, foi encerrado em fevereiro o calendário recomendado pelo zoneamento agrícola para plantio de milho safrinha. No entanto, existem fazendas goianas que ainda estão com muita soja por colher. De acordo com dados da Associação dos Produtores de Soja e Milho no Estado (Aprosoja-GO), a colheita estadual da oleaginosa está em cerca de 60% do total, enquanto a semeadura do milho alcança 80% da área projetada pela associação em quase 1,2 milhão de hectares.

Com insumos (sementes, fertilizantes e defensivos) já adquiridos para a safrinha, é provável que muitos produtores façam o plantio de ao menos parte do planejado. Porém, estender o plantio até o mês de março é um risco que a Ciência não recomenda. “O produtor precisa pensar muito se planta milho agora”, alerta o pesquisador em Agrometeorologia na Embrapa Arroz e Feijão, Silvando Carlos. “Aqui em Goiás, se você plantar nessa primeira quinzena de março, os riscos são bem maiores do que se o produtor pudesse ter plantado o milho na segunda quinzena de fevereiro. Março já está completamente fora daquilo recomendado pelo zoneamento, porque a cultura vai estar exposta a um risco climático bastante elevado”, afirma ele, que participa da elaboração do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) do Ministério da Agricultura.

Balanço hídrico

Silvando explica que o zoneamento é baseado no balanço hídrico da cultura, o qual considera elementos climáticos e a capacidade de armazenamento de água no solo. O ZARC também leva em conta as normais climatológicas (histórico de chuvas) de cada município para indicar, por meio de faixas de risco, qual o período mais adequado para a instalação de cada variedade de uma cultura. “O zoneamento é uma política pública que o Ministério usa há quase 30 anos. É importante que o produtor tente atender ao máximo essa janela de plantio do zoneamento para fugir da zona de alto risco para os seus cultivos”, recomenda Silvando.

Histórico de chuvas

Segundo o especialista, o zoneamento não “tenta prever o ano meteorológico”, se as chuvas vão adiantar ou atrasar, mas sim trabalha com dados que já aconteceram. “Pelas normais climatológicas, a gente sabe que nossas chuvas aqui acabam em abril. Se o produtor semear milho agora, daqui uns 60 dias chega no florescimento, que é um período crítico da cultura. Esporadicamente, temos algumas chuvas em maio, mas não suficientes para atender à demanda que essa cultura vai necessitar”, ressalta. Por isso, ele diz, é complicado estender a janela de plantio sem contar com irrigação suplementar.

Se houver diminuição de chuvas na fase reprodutiva da planta (pré-florescimento e florescimento), reforça Silvando, serão grandes os prejuízos em produtividade. “O produtor não pode deixar que o florescimento de qualquer cultivo na safrinha coincida com o final de abril a início de maio, porque as nossas chuvas já são bastante escassas nessa época”, orienta o pesquisador da Embrapa.

Curva de produtividade

Plantar dentro da janela ideal realmente faz toda a diferença na produtividade da lavoura. É o que apontou um levantamento do Grupo Associado de Pesquisa do Sudoeste Goiano (Gapes), feito em mais de 80 mil hectares de milho safrinha na região de Rio Verde-GO, no ano passado. “A gente pode fazer uma curva de resposta da lavoura à época de plantio do milho. Ela mostra exatamente o resultado de quantos dias o atraso no plantio faz perder em produtividade.”, relata o chefe de pesquisa do Gapes, Túlio Gonçalo.

O melhor milho não é o plantado no começo de janeiro, afirma o pesquisador, devido à alta incidência de doenças e pragas. “Segundo os resultados que a gente tem internamente [do Sudoeste de Goiás], a época ideal para a região está compreendida entre o dia 20 de janeiro e 14 de fevereiro”, revela Gonçalo. Quando a semeadura passa do dia 14 e segue até 21 de fevereiro, os dados indicam que o potencial produtivo da lavoura já diminui, porém, “ainda em níveis, de certa forma, rentáveis para o produtor”, principalmente se ele reduz os gastos com investimentos.

“Mas quando o plantio entra a partir do dia 24 de fevereiro, há uma queda de produtividade acentuada, mesmo em anos de uma boa pluviometria, quando as chuvas vão até meados de maio. A gente começa a falar em médias de até 105 sacas de milho por hectare, que dados os custos de safrinha, a lavoura fica praticamente empatada [custos e receita similares]”, alerta o pesquisador da Gapes. Se está “chovendo bem” e o produtor decide plantar nos primeiros dias de março, as médias não passam de 100 sacas por hectare, apontam os dados do Gapes. Quando a semeadura vai para a segunda semana de março, então, a média cai ainda mais.

De acordo com Gonçalo, o plantio de milho na região de Rio Verde-GO se concentrou nas últimas duas semanas. Ano passado, apenas 7% da área compreendida entre os produtores filiados ao Gapes entrou na janela de risco, considerada pelo grupo de 24 de fevereiro até começo de março. “Esse ano, a gente calcula que mais de 20% da nossa área será plantada em uma época de baixo potencial produtivo”, afirma o pesquisador. “Na safrinha de 2017, as lavouras foram plantadas a partir do dia 15 de janeiro. Em 2018, os primeiros plantios foram no começo de fevereiro.”

Alternativas ao milho

Algumas alternativas ao milho, que combinam menor custo e maior tolerância à deficiência hídrica, podem ser interessantes nesse momento. O chefe de pesquisa do Gapes cita o sorgo, principalmente para regiões mais baixas, e o feijão caupi. Segundo ele, o sorgo plantado até o dia 15 de março pode render uma média de 70 a 75 sacas por hectare, enquanto o feijão caupi, se instalado até 25 de março no máximo, fecha em cerca de 25 sacas por hectare.

“São opções de baixo investimento e alta eficiência na utilização da água. Também são mais seguras [ao risco climático], e podem trazer um custo-benefício melhor do que o milho plantado fora da janela”, destaca Gonçalo. Já o pesquisador da Embrapa cita ainda a possibilidade de o produtor substituir o milho tardio por algum tipo de adubação verde, como o feijão guandu, contudo, sem retorno financeiro imediato. “Ele poderia plantar algo para recuperar o solo. Mas isso vai depender do planejamento de cada produtor em sua fazenda”, diz Silvando Carlos.



Data da Notícia: 06/03/2018
Tags: Milho, Safrinha
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