Blog do Coser
A queda dos preços internacionais das carnes de aves e suínos, a perda de espaço da carne suína no mercado externo, a forte variação cambial e os recentes aumentos da energia elétrica e dos combustíveis vão determinar um forte ajuste em todo o sistema agroindustrial de aves e suínos. Se de um lado a desvalorização do real vai aumentar a competitividade da carne brasileira no mercado internacional, de outro, o forte aumento das cotações da moeda americana vai impactar fortemente no custo de produção através dos aumentos em vitaminas, minerais, medicamentos e insumos industriais que vão desde condimentos até máquinas e equipamentos.
O resultado das exportações das carnes de aves e suínos do primeiro bimestre de 2015 comparado ao mesmo período de 2014 demonstra que os possíveis ganhos da desvalorização do real não serão suficientes para compensar todos os aumentos do custo de produção, principalmente devido à queda nos volumes e nos preços médios das carnes. Nos primeiros dois meses de 2015 o volume exportado de carne de aves caiu 4,2% e o de carne suína 24,1% quando comparado com o ano passado. Em receita a perda foi ainda maior, com queda de 10,6% no faturamento em dólares para carne de aves e 26% de queda para carne suína.
Neste mesmo período o efeito do aumento dos combustíveis, do dólar e da energia elétrica atingiu diretamente o custo de produção. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), somente em fevereiro a gasolina teve um aumento médio de 8,42%, o etanol subiu 7,19% e o diesel 5,32%. O dólar já acumula em 2015 uma valorização de 16,8% frente ao real, com impacto nos custos dos insumos da produção agropecuária e também da indústria de transformação. No entanto, o maior aumento percentual foi mesmo da energia elétrica.
No final de fevereiro a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou um aumento das tarifas de 58 das 63 distribuidoras de energia do país. Para os estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste o reajuste médio ficou em 28,7%. A principal causa é o forte aumento do custo da hidrelétrica de Itaipu, que fornece energia elétrica para estas regiões e teve aumento de 46% no custo de geração no último ano. O crescimento foi impulsionado pela alta do dólar (por ser uma empresa binacional, a energia da geradora é comercializada em dólar) e pela fata de chuva. Os maiores reajustes serão da Copel (36,4%), que atende a clientes no Paraná, da Eletropaulo (31,9%), que atua em São Paulo, e da Cemig (28,8%), que atende a consumidores de Minas Gerais.
Esta nova realidade do cenário econômico vai desencadear ajustes nas integrações de aves e suínos que são responsáveis pela produção brasileira de mais de 90% da carne de frango e de aproximadamente 75% da carne suína. Por um lado a indústria encontra maiores dificuldades de acesso e menores preços no mercado internacional, e de outro, os produtores integrados já estão absorvendo maiores custos de produção em virtude de todos estes aumentos, sobretudo do custo de energia elétrica que é de total responsabilidade dos integrados.
No Mato Grosso, os integrados de aves e suínos da BRF já se movimentam contrariamente é redução das margens, inclusive com ameaça de cortar parte do fornecimento de aves e suínos para agroindústria, medida de difícil execução pela falta de alternativa frigorífica. No Paraná, os produtores de aves estão recalculando os custos de produção para discutirem possíveis reajustes com as indústrias. É justamente em momentos de maior tensão da relação integrado/integradora que fica claro a necessidade de regulamentação do sistema de integração agroindustrial.