Carne de frango: vale a pena apostar no mercado russo?

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Quando, há cerca de 15 dias, Vladimir Putin anunciou o embargo russo a produtos agropecuários dos EUA, da União Europeia e de alguns outros países, a reação dos exportadores de carne de frango norte-americanos foi de total indiferença.

Tal comportamento surpreende, pois ainda que a Rússia não seja mais o maior importador mundial do produto, continua (ou continuava) tendo nos EUA seu principal fornecedor. Que, por sua vez, contam com a Rússia como seu segundo maior importador de carne de frango.

Porém, segundo manifestação da própria entidade dos exportadores norte-americanos, a USAPEEC, a eventual perda desse mercado já não faz grande diferença, pois ainda que num passado não muito remoto a Rússia tenha chegado a absorver quase a metade do que foi exportado pelo país (em 1997, 46,7% do total, conforme o USDA), hoje representa menos de 10% do total (em 2013, 8,3% do total; ou um volume 70% menor que o registrado em 1997).

Mas não são os EUA que vêm perdendo esse mercado e, sim, a Rússia que vem importando cada vez menos. Pois o país caminha a passos largos para a autossuficiência. A ponto de assinalar que no futuro (eventualmente mais próximo do que se possa imaginar) será exportador e não mais importador de carne de frango.

Isso quer dizer que, exceto no curto prazo, não vale a pena apostar no mercado russo. E o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) demonstrou tal realidade em trabalho divulgado em fevereiro deste ano – quer dizer, muito antes que se desenhasse a atual crise internacional.

No trabalho do USDA – que aponta a tendência da evolução das exportações de carne de frango no decênio 2014/2023 – a Rússia chegará ao final desse período importando não mais que 133 mil toneladas de carne de frango, ou seja, pouco mais de um quinto do que importou na média do biênio 2012/2013 (566,5 mil toneladas).

Mas ao mesmo tempo em que prevê radical queda das importações russas, o USDA sinaliza crescimento de mais de um terço nas exportações globais do produto. Quer dizer: a perda de um lado será amplamente compensada do outro. Mas onde?

Sintético ao máximo, o gráfico abaixo (desenvolvido a partir das projeções do USDA) concentra, além das informações relativas aos dois países que hoje merecem toda a atenção dos exportadores brasileiros de carne de frango – Rússia e México – também as projeções relativas aos dois principais importadores do produto brasileiro – Arábia Saudita e Japão – incluindo, de quebra, estimativas relativas ao conjunto de países do Oriente Médio além da Arábia Saudita (principal mercado do frango do Brasil).

Individualmente, está claro, o mercado com maior potencial é o México. Deve, já em 2015, ocupar a liderança nas importações mundiais de carne de frango, deixando para trás os hoje líderes Japão e Arábia Saudita. Nas projeções do USDA nestes próximos 10 anos amplia suas compras externas em cerca de 75% (curiosamente, o índice de redução apontado para a Rússia é quase o mesmo – menos 76%).

Porém, em termos de bloco, a liderança absoluta continua no Oriente Médio. Assim, ainda que a Arábia Saudita venha a registrar expansão menor que a do México (28%), o índice de incremento previsto para os demais países do Oriente Médio é de 60% - o que significa que, em conjunto, as importações do bloco podem aumentar perto de 50%. E o Brasil é o maior fornecedor desse bloco.

Em resumo: que não se perca a oportunidade surgida com a possível ampliação das compras ora visualizada. Mas que, em nome desse mercado, não sejam afetados os principais mercados já atendidos pela avicultura brasileira. Ao contrário, mais do que nunca (até porque há “predadores” soltos por aí) eles merecem a máxima atenção Não atentar para isso é trocar o certo pelo incerto.

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Data da Notícia: 19/08/2014
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