Diário Catarinense
Convocados pelo Comando Nacional do Transporte, caminhoneiros autônomos irão iniciar greve por tempo indeterminado na próxima segunda-feira, com pretensão de atingir todo o país. A pauta não traz reivindicações da categoria. As lideranças assumem publicamente que o objetivo é pressionar pela renúncia da presidente Dilma Rousseff.
Integrantes do movimento dizem que a lista de reivindicações permanece a mesma apresentada em fevereiro, quando houve uma greve de caminhoneiros que gerou problemas logísticos, ameaças de desabastecimento e terminou, já em março, em confronto da Força Nacional e da Polícia Rodoviária Federal.
– A nossa pauta do transporte existe e não foi atendida. Alguns pontos dela são redução do preço do óleo diesel, criação da tabela do preço mínimo do frete, carência de 12 meses para quem tem financiamento de caminhão no BNDES (no total, são 10 reivindicações). Agora, a pauta é a deposição da presidente – explicou Fábio Luis Roque, caminhoneiro e liderança do Comando Nacional do Transporte.
Um dos principais líderes, Ivar Schmidt, de Mossoró (RN), foi enfático em um vídeo de convocação à greve publicado na página do movimento no Facebook, com mais de 28 mil curtidores.
– A nossa principal reivindicação é a saída da Dilma Rousseff – disse Schmidt.
Eles admitem ter uma “aliança” com grupos anti-Dilma como Vem Pra Rua, Brasil Livre, Avança Brasil e Revoltados On Line. A ideia é deslocar parte dos veículos, sobretudo do Distrito Federal e de Goiás, para Brasília até o próximo dia 15. Os caminhoneiros pretendem se juntar a manifestantes que estão acampados na capital federal para pressionar pelo impeachment ou pela renúncia.
Como a organização é por fora dos sindicatos, por meio de uma rede de contatos de Facebook e WhatsApp, é difícil estimar a adesão. Alguns profissionais estão divididos.
POLÍCIA MONITORA MOVIMENTO EM SC
– Achamos que não dá para ir à estrada sem uma pauta da categoria, somente para pedir impeachment. Vamos atender a solicitação do comando em parte. Ficaremos parados em casa e veremos o que vai acontecer – explicou o caminhoneiro Odi Antônio Vani.
Em Santa Catarina, entidades como Sindicato dos Motoristas de Itajaí e Região, Federação dos Caminhoneiros Autônomos do RS e SC (Fecam), Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do Estado de SC (Sindicam/SC) e Federação dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários no Estado de SC (Fectroesc) já se manifestaram destacando que não apoiam nem participam da coordenação da greve. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que monitora a situação, mas que ainda não trabalha com nenhum esquema especial visando a paralisação. Sindicatos e federações da categoria são contrários à greve:
– Pelo o que percebemos, alguns infiltrados estão usando o caminhoneiro para instigar um golpe de Estado, querem derrubar o governo – diz André Costa, presidente da Fecam.
O governo federal monitora, preocupado com a possibilidade de agitação política em momento de enfraquecimento do impeachment no Congresso. Outro alerta soa no Palácio do Planalto com a hipótese de ampliação da crise econômica caso ganhe força a paralisação no transporte de cargas.
CARLOS ROLLSING | REPORTAGEM@DIARIOCATARINENSE.COM.BR
AS REIVINDICAÇÕES
PAUTA DA GREVE DE SEGUNDA-FEIRA
- Renúncia da presidente Dilma Rousseff
PAUTA DOS CAMINHONEIROS INDEPENDENTES APRESENTADA NA GREVE DE FEVEREIRO
- Redução do óleo diesel
- Criação de tabela com valor mínimo de frete
- Anulação das multas aplicadas a caminhoneiros na greve de fevereiro de 2015
- Reserva de mercado de 40% nas cargas em que o governo é agente pagador
- Refinanciamento bancário
- Respeito às decisões do Fórum do Transporte, criado neste ano
- Liberação de crédito de R$ 50 mil com juros subsidiados para transportadores autônomos
- Aposentadoria com 25 anos de contribuição
- Salário unificado em todo o território nacional
- Fator previdenciário permanecer em 1% para as empresas de transporte de cargas