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Centenas de milhares de toneladas: este é o volume discutido no mercado em negócios de importações já realizados com a Argentina. O objetivo seria atender a uma escassez enquanto agricultores brasileiros evitam vender o produto da safra nova, apostando em preços mais altos.
Só a avícola GTFoods (Maringá/PR) anunciou que importará sozinha 90 mil toneladas de milho da Argentina. A esse volume podem ser somados negócios reportados de cerca de 250 mil toneladas, para entregas até meados de maio. A última vez que o Brasil importou volumes tão elevados da Argentina foi em 2001, quando foram adquiridas 321 mil toneladas, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, Brasília/DF).
As compras mais volumosas agora, que deverão resultar em desembarques em abril e maio, ocorrem com os preços do cereal no mercado interno em picos históricos, deixando o produto da Argentina mais competitivo. O milho para exportação no porto brasileiro de Paranaguá está 25 por cento mais alto do que em Buenos Aires, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea, Piracicaba/SP).
Os números são pequenos perto do que o Brasil exportou durante o ano passado, um recorde de mais de 30 milhões de toneladas. Em janeiro e fevereiro as exportações atingiram quase 10 milhões de toneladas. A forte desvalorização do real no último ano é o principal motivo do grande movimento exportador que reduziu fortemente os estoques locais de milho. Os volumes de importação também são pequenos se comparados com o consumo mensal do Brasil, em 4,5 milhões de toneladas.
No ano passado, as importações de milho da Argentina pelo Brasil praticamente inexistiram, somando pouco menos de duas mil toneladas, enquanto as compras totais do país, de todas as origens, atingiram cerca de 370 mil toneladas.
O pesquisador do Cepea, Lucílio Alves, lembra que o Brasil fechou o ano comercial do milho (fevereiro de 2015/janeiro de 2016) com 10,5 milhões de toneladas em estoques, volumes que caíram quase pela metade com os embarques de 5,5 milhões em fevereiro de 2016. E, em março, o governo já reportou quase duas milhões de toneladas de exportações.
Ainda que o Brasil atualmente já tenha colhido mais da metade de sua safra de verão, de cerca de 28 milhões de toneladas, produtores estão relutantes em vender o produto recém colhido, acreditando que os preços poderão subir mais. “O mercado interno vai se ajustar com a chegada da segunda safra, e mesmo a partir do momento que produtores começarem a vender a primeira safra”, disse o pesquisador do Cepea.
O Brasil deverá colher um volume próximo de um recorde em 2015/16, mas a maior parte, ou cerca de 55 milhões de toneladas só deverá chegar ao mercado em meados do ano, na segunda safra.