AVICULTURAMais de 70% dos avicultores no Oeste do Paraná optam pelo sol

Foto: Arquivo/OP Rural

Mais de 70% dos avicultores no Oeste do Paraná contam com geração de energia fotovoltaica, conforme apuração do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Paraná (Sindiavipar) junto à integradoras e cooperativas da região. O percentual é significativo, principalmente quando os gastos com energia giram em torno de 30% do custo total da produção. “O produtor integrado compromete de 18 a 25% dos custos diretos de criação do frango de corte com energia e 30 a 36% na produção de ovos férteis”, aponta levantamento do Sindiavipar, que calcula uma redução de até 90% no custo da energia elétrica com a instalação de usinas fotovoltaicas.

Para o consultor em avicultura e gerente-executivo de Agropecuária da Seara, Vamiré Luiz Sens Júnior, a energia solar aumenta a margem de lucro dos avicultores, o que possibilita maior segurança na atividade e, consequentemente, mais qualidade de vida no campo, perenização da atividade e um futuro melhor para as novas gerações. “Diante de um cenário de aumento de custos, a busca constante por alternativas de mitigação deve ser incansável”, avalia ele.

Consumo onipresente e demanda constante

Desde o alojamento dos animais, ambientação, alimentação e hidratação até o transporte, manutenção e desinfecção das granjas, além do consumo nas residências dos avicultores: todos os processos da avicultura exigem energia elétrica em algum nível. “Com a evolução do setor, houve incremento de escala e, com isso, cresceu a implementação de tecnologias de automação nos aviários, o que aumentou o consumo de energia elétrica e contribuiu na formação do custo de produção dos produtores”, diz Sens Júnior.

Além de onipresente, a demanda por energia é permanente. “O avicultor não tem alternativa. Não há como interromper o consumo de energia. Por isso, para reduzir prejuízos, grande parte dos produtores tem gerador de energia para emergência”, ressalta o também consultor em Avicultura no Paraná, Álvaro Baccin, que atua na Gestão de Projetos Agropecuários na Globoaves.

Alívio no sistema convencional

Neste cenário, os investimentos em fontes renováveis de energia reduzem os custos de produção e, pensando na sustentabilidade da cadeira produtiva, diminuem a sobrecarga do sistema produtivo e da distribuição de energia convencional. Na prática, quando menos consumidores dependem do abastecimento das concessionárias se diminui o acionamento de usinas termoelétricas, que consomem combustíveis fósseis, em períodos de escassez hídrica – o que também ‘livra’ os produtores que optam pela energia solar de arcar com os aumentos de tarifas das concessionárias nessas épocas de crise.

Através do Programa Renova Paraná, o Governo do Estado subsidia parte ou a totalidade dos juros de financiamentos para projetos de energia limpa e biogás em propriedades rurais. Somando as linhas de créditos disponíveis e a possibilidade de escapar das altas tarifas, o Sindiavipar considera que a crescente oferta de tecnologias e a maior eficiência de produção são pontos de sinergia para viabilizar cada vez mais o investimento em energias fotovoltaicas.

No entanto, na prática, os avicultores se deparam com limitações para acessar o crédito. Neste sentido, o sindicato encampa diálogos frequentes com o setor público para alavancar o uso de fontes renováveis de energia e adoção de linhas de financiamento realmente acessíveis, como exemplo da Lei Estadual nº 10.835/2020, que instituiu o Programa Paraná Energia Rural Renovável.

Como o sistema fotovoltaico funciona

Nas propriedades, produtores integrados e cooperados normalmente optam pela microgeração, com capacidade de geração equivalente à potência do transformador e ao padrão daquela unidade consumidora. Por exemplo, se o transformador é de 75 KVA, calcula-se quantas placas e a potência dos inversores para gerar, no máximo, esta mesma quantidade de energia.

Com o sistema em funcionamento, a concessionária de energia faz a medida entre energia consumida e injetada, sendo que a energia injetada fica contabilizada em créditos de Kwh que são deduzidos da fatura conforme o consumo supera a quantidade injetada. “Desta forma, um sistema bem dimensionado tende a equilibrar geração e consumo, fazendo com que o produtor tenha a conta zerada ou muito próxima de zero. O principal benefício para quem já amortizou o investimento é um custo de energia acessível, constituído de taxa mínima”, expõe Baccin, que acrescenta: “A energia solar gerada está estimada em R$ 0,18 a 0,22 por KWh em comparação a R$ 0,66 por KWh do custo da energia rural proveniente da concessionária”.

Já nos aviários novos, é comum segmentar o projeto. “Primeiro constrói a parte produtiva, os aviários, as instalações e toda a infraestrutura. Depois, investe-se em projetos de geração de energia fotovoltaica. Desta forma, é importante ressaltar a responsabilidade compartilhada e apoio do governo paranaense na concessão de financiamento e ampliação do Programa Paraná Energia Rural Renovável”, adverte o gestor da Globoaves.

Tensões no caminho

Um dos desafios encontrados pelos produtores que optam pela energia fotovoltaica é a precariedade da rede elétrica da concessionária, pois, conforme apuração do Sindiavipar, a instabilidade e as interrupções no fornecimento dificultam a geração de energia solar. “Outro problema é manter os equipamentos eletrônicos com a manutenção em dia diante da oscilação de tensão provocada pelo sistema. Para isso, a qualidade dos inversores e os parâmetros utilizados precisam ser acompanhados, monitorados e ajustados pelo serviço de geração de energia”, explica Baccin, alegando que um modo de resolver é adequar os serviços da concessionária de energia aos padrões da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e garantir a assistência pós-venda dos equipamento de geração fotovoltaica.

Futuro da energia solar

Segundo a Organização das Nações Unidas, a demanda de alimento no planeta vai dobrar de volume até 2050 e, conforme Sens Júnior, a energia fotovoltaica é uma aliada nesse desafio, mostrando competência ambiental, técnica e econômica, permitindo a produção de um alimento sustentável e acessível à diferentes públicos. “A indústria avícola brasileira já possui uma produção mais sustentável que outros países. Pensando em toda a produção nacional, emitimos 45% menos CO₂ que a produção do Reino Unido, segundo o Defra – Dados do Reino Unido. Além disso, a Associação Brasileira de Proteína Animal lançou o selo ‘Good Food’ para posicionar a indústria avícola em nível global no quesito sustentabilidade, o que contribui para a impulsionar a atividade no mercado”, ressalta Baccin.

Para expandir os investimentos em energias renováveis, o consultor defende o aprimoramento da legislação, considerando que o produtor não pode ser enquadrado como consumidor horo sazonal e, além disso, demanda de projetos cada vez maiores. “Ele não pode interromper o consumo das 18 às 19 horas. Também os projetos atuais, para serem viáveis, estão maiores que no passado, porque hoje uma propriedade tem quatro, seis, oito ou mais aviários. Por este aspecto, e em razão da demanda de até 250 KVA ou mais, é essencial que a legislação referente à energia solar esteja em constante evolução para viabilizar a competitividade do agronegócio e da avicultura”, frisa.

Já Sens Júnior, por sua vez, projeta o crescimento de cooperativas de geração de energia elétrica através de parques fotovoltaicos. “Esta modalidade permite que o produtor com limitação de crédito, área reduzida na propriedade para instalação dos painéis ou mesmo aquele que reside em uma região com nível baixo de insolação possa participar da cooperativa, adquirindo a energia renovável de menor custo e melhorando a margem do seu negócio”, explica o gerente-executivo.

Fonte: o Presente Rural

Data da Notícia: 26/03/2024
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