Farming
A famosa declaração do químico Antoine Lavoisier de que “nada se cria, nada se perde e tudo se transforma” assume efeito prático na avicultura brasileira. Referência em controle sanitário e eficiência na produção, a atividade também se destaca no reaproveitamento de dejetos e na preservação ambiental. Subprodutos que poderiam ser encarados como um problema, como as aves mortas, são reaproveitados e geram insumos úteis para a própria fazenda.
A taxa de mortalidade varia conforme o sistema de produção e a idade do plantel mas, na média, os técnicos avaliam que aproximadamente 3% das aves que compõem um lote de produção morrem antes de chegar ao abate. Ou seja, em uma granja na qual são criadas 100 mil aves por ciclo, cerca de 3 mil delas acabam sendo descartadas durante a criação e engorda. Surge então o desafio: como gerenciar esse passivo de forma eficiente, sem causar prejuízo ambiental?
Compostagem vantajosa
Na maioria dos casos, a estratégia de descarte é definida pela empresa responsável pela integração. Mas, na prática, quem executa e colhe os efeitos dessa iniciativa é o próprio criador. É o caso do avicultor Leomar Casarolli, de Corbélia, na região Oeste do Paraná. Ele possui quatro barracões com capacidade para receber até 80 mil aves. “Faço a compostagem das aves mortas e depois aplico o composto na lavoura de grãos para ampliar a produtividade”, conta.
Ele, que dedica 140 hectares à agricultura, reservou 100 toneladas do composto para aplicar em parte das lavouras de milho safrinha nesta temporada. A aplicação é feita em doses controladas, sendo 4 mil quilos em cada hectare cultivado com o cereal. “O ideal é acumular um bom volume de composto e fazer uma aplicação reforçada na lavoura para ampliar a produtividade”, diz o produtor. A expectativa é de um incremento de até 10% no rendimento, aliado a economia na adubação. Caso a mesma aplicação fosse realizada com ureia, por exemplo, o desembolso seria de R$ 1,5 mil por tonelada.
Decomposição
A compostagem realizada por Casarolli está entre as opções mais populares para tratar os dejetos da produção. Neste modelo, as aves mortas são direcionadas para uma composteira localizada na própria fazenda. Lá, são adicionados insumos que facilitam a decomposição dos restos mortais, resultando em um composto altamente nutritivo para o solo.
Todo o processo segue uma série de diretrizes técnicas que visam evitar qualquer tipo de impacto ambiental. “O método da compostagem é bom porque não contamina o meio ambiente, evita moscas e o cheiro ruim”, diz o avicultor Mauro Nicola, dono da Estância Foz do Iguaçu em Nova Esperança, no Norte do Paraná.
Cama aviária
Com dois galpões e uma produção média de 65 mil aves por lote, ele conta que a formação de composto garante insumo suficiente para os cinco hectares de lavoura plantados na estância. Assim, ele pode lucrar com a venda de outro subproduto: a cama aviária (cobertura orgânica na qual as aves são criadas). “Como o composto é suficiente para minha propriedade, consigo vender a cama por R$ 85 a tonelada”, afirma.