Correio do Povo
Num grito de desespero, em meio à crise, que aliás, ataca de todos os lados e vem de todas as latitudes, ouvi uma sábia colocação do Ministro Delfim Neto: todas as crises passam e normalmente deixam ensinamentos e mudanças de conceitos. Crise Europeia, Asiática, Russa, Brasileira, Gaúcha. Todas roubando a confiança do povo, causando sofrimentos. Crises políticas ou econômicas. Crises do Poder Público. Vícios, gastança sem limite, objetivos e prioridades perdidas. Estado inflado, cansado, perdulário, despreparado para o novo tempo. As fichas começaram a cair. Já caíram na Europa. Portugal pactuou e diminuiu de tamanho, é um estado mais eficiente. A Espanha, o “Estado Voraz”, inflado, também diminuiu suas gorduras e ficou mais ágil. O Brasil e o Rio Grande do Sul caminham para esta mudança de conceitos. A singeleza da matemática de olhar para as colunas da receita e da despesa agora, mais do que nunca, é necessária. E o Brasil solitário no mercado, que antes adotara a postura de uma ilha exportadora de ideologia, agora começa a pensar em acordos de comércio, acordos bilaterais e enxerga que a saída é ter moeda forte, exportar, gerar desenvolvimento, abrir oportunidades e atrair investidores. Nunca é tarde para mudar, mas nossa mudança custou a vergonha de ver o rebaixamento da nota do país, a desconfiança, a fuga de capitais. A própria crise política é fruto da teimosia, das más escolhas, das más companhias, das picuinhas, do toma-lá-dá-cá. Nossa geração quase assistiu o fenômeno do efetivo crescimento acontecer. A chance se foi, mas o desejo não morreu. A ideia de que outro mundo é possível, onde existe índice de qualidade de vida e paz, agora está plantada em nossos filhos. Pois, como disse o escritor irlandês, Oscar Wilde, “nenhum país do mundo é digno de um olhar se o país da utopia não figura nele”. Graças a dor, agora pensamos diferente e buscamos a nossa utopia. Estou convicto disto: a crise nos obrigou a mudar nossos conceitos. Francisco Turra – ex-ministro da Agricultura e Presidente-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA)