Valor Econômico
Pressionado por problemas de oferta, pela demanda aquecida em mercados como o chinês e pela desvalorização do real, o preço da soja está batendo recordes no Brasil. O fenômeno é atípico para esta época do ano, quando o escoamento da safra nacional está a pleno vapor.
Levantamento publicado diariamente pelo Valor PRO mostra que a saca de 60 quilos já é negociada a R$ 80 em diversas cooperativas do Paraná, uma alta superior a 30% em relação ao mesmo período do ano passado. Quando comparada ao nível verificado antes do feriado de Corpus Christi a valorização é de 4,5%.
Em polos de produção de Mato Grosso, como Sinop, Sorriso e Lucas do Rio Verde, a saca é negociada entre R$ 82 e R$ 84, o que representa ágio de 12% sobre a paridade de exportação, diz Francisco Peres, sócio da corretora Labhoro, de Curitiba. A alta é uma boa notícia para os exportadores, mas um problema para produtores de aves e suínos, que usam a soja como insumo e cujas margens também estão apertadas devido à alta do milho. Além disso, há a pressão sobre a inflação.
"Trabalho nesse mercado há 35 anos e nunca vi algo semelhante acontecer no primeiro semestre. Tradicionalmente, um ágio tão grande só ocorre entre outubro e novembro, quando não há soja no país", diz Peres. O corretor estima que, considerando a taxa de câmbio, as cotações na bolsa de Chicago e a demanda, a saca deveria estar custando entre R$ 73 e R$ 74 em Mato Grosso.
As altas da soja e do milho - respectivamente, de 12,38% e 7,93% em maio - foram justamente as maiores surpresas do IGP-M, que fechou o mês em alta de 0,82%, acima das expectativas do mercado. O IGP-M reflete, principalmente, os preços no atacado. Como o indicador está pressionado pela alta dos preços agrícolas, analistas temem que a inflação ao consumidor não recue o esperado em meados deste ano.