Jornal do Comércio
O acordo comercial Transpacífico, assinado no início de outubro por Japão, Estados Unidos e mais 10 países banhados pelo Oceano Pacífico, acendeu o sinal de alerta nos exportadores nacionais de carne de frango. O aviso foi dado ontem pelo ex-ministro da agricultura e atual presidente executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra.
Responsável por gerar US$ 8,5 bilhões em exportações no ano passado, o setor avícola atingiu em 2014 uma participação de 84% na demanda de consumo interno do mercado japonês - o equivalente a 399,294 mil toneladas, conforme dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês). Agora, segundo Turra, o país asiático, que representa o segundo principal destino do segmento avícola nacional - substituirá uma parcela considerável da cota de importações, atualmente, destinada ao Brasil.
O resultado deve ser uma substituição gradual do produto brasileiro pela carne de frango oriunda dos novos parceiros comerciais, entre eles, os Estado Unidos. Na avaliação de Turra, que participou de painel no Fórum dos Grandes Debates, promovido pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, esse é apenas um dos desafios a serem enfrentados nos próximos anos.
Com base em levantamentos da ABPA, juntas, a avicultura e a suinocultura brasileiras possuem valor de produção avaliado em R$ 80 bilhões. Em 2015, os crescimentos tendem a girar próximos de 5% e 7%, respectivamente. Neste contexto, as atividades que geram mais de 4,15 milhões de empregos representam 10,5% das exportações agrícolas do País, com cifras que ultrapassaram os US$ 10,1 bilhões no ano passado.
Com produtos presentes em 157 países, o ex-ministro, Francisco Turra, estima que a manutenção destes mercados depende da consolidação de processos capazes de agregar valor e qualidade à produção nacional. "Somos um País gigante e que se desenvolveu muito rápido nos últimos anos, mas ainda carecemos de inciativas capazes de consolidar nossa presença internacional", comenta.
O presidente executivo ABPA também chama a atenção para a necessidade de ampliar a industrialização de embutidos. De acordo com projeções da entidade, enquanto o Brasil consegue obter em média US$ 2,1 mil por tonelada de carne de frango vendidas no mercado externo, concorrentes como a Tailândia cobram até
US$ 5,2 mil por tonelada. O segredo, aponta Turra, está, justamente, na capacidade de processamento da produção tailandesa. "Precisamos urgentemente agregar valor aos nosso produtos", resume.
Por outro lado, a boa notícia está nas estimativas de crescimento da demanda por alimentos. Levantamento da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) indica que até o ano 2022 a demanda por carne de aves crescerá 19%. Para a carne suína, a expectativa aponta para aumento de 13% e, nos bovinos, 14%. Aliado a isso, Turra considera o gigante mercado chinês ainda pouco explorado. Atualmente, o país asiático compra apenas 300 mil toneladas de aves, quando o potencial estimado seria algo próximo a 2 milhões de toneladas.