Blog do Coser
Na semana passada escrevi um editorial que explicava que o atual momento poderá ser o melhor dos últimos 15 anos para a suinocultura brasileira, devido a uma combinação de preços recordes no mercado de suínos vivos, resultado de um ajuste na oferta de animais para o abate, com queda no custo de produção, em razão da baixa nas cotações das commodities agrícolas. Num cenário conservador, com preços de milho e farelo de soja para o próximo ano no mercado de São Paulo em R$ 20,00 a saca e R$ 1.050,00 a tonelada respectivamente, ainda que o preço do suíno chegue a R$ 3,30 o kg vivo, o suinocultor terá uma relação de troca insumo x produto economicamente viável, prolongando a boa fase do setor.
No entanto, para que a cadeia produtiva aproveite o momento favorável e cresça com sustentabilidade, é necessário que haja um "pouso suave", que oferta e demanda se reequilibrem sem gerar uma nova crise. Cinco anos atrás o mercado de suínos também viveu um momento de euforia, que permitiu um crescimento da produção e elevou o abate de suínos com inspeção federal, que representa mais de 90% de todo abate do Brasil, de uma média mensal de 2,4 milhões em 2010 para 2,8 milhões em 2012.
Nesse mesmo período não houve incremento nas exportações e para agravar o quadro os preços das commodities agrícolas que já estavam em patamar mais elevado desde a crise dos derivativos de 2008, subiu ainda mais em 2011 e 2012, elevando substancialmente o custo de produção. A conjunção de aumento do custo de produção, aumento da oferta de animais para o abate e estagnação das exportações, criou um quadro de grande tensão no mercado e deflagrou uma das piores crises da suinocultura brasileira entre o segundo semestre de 2011 e o primeiro semestre de 2012.
As exportações brasileiras de carne suína estão há 10 anos no mesmo patamar, com média anual em torno de 550 mil toneladas, fazendo com que todo crescimento setorial dependa de um aumento na demanda doméstica. Como não é claro o potencial da demanda interna, um aumento demasiado na oferta de abate desestabiliza o mercado de preços do suíno vivo, gerando crise. A última delas foi fruto de um aumento na oferta da ordem de 400 mil suínos/mês entre os anos de 2010 e 2012, que derrubou os preços pagos ao suinocultor, fato agravado pelo aumento do custo dos grãos.
No gráfico abaixo podemos observar dois momentos do mercado de suínos nestes últimos cinco anos. O primeiro, entre 2010 e 2012, apresenta um crescimento da oferta e queda nas cotações do suíno vivo. Este período teve ápice em meados de 2012, com o abate de suínos acima de 3,0 milhões de animais/mês e o preço do kg vivo em R$ 2,20 no mercado de São Paulo. No outro momento, a partir de agosto de 2012, observamos uma queda sistemática no abate, que retornou ao patamar de 2,6 milhões/mês em 2013, e gerou uma forte recuperação dos preços do suíno vivo.
As cotações atuais estão em um patamar elevado, mas houve uma inflexão na curva de oferta a partir de março de 2014, o que certamente vai afetar os preços de mercado. Nos meses de jan./fev./mar. deste ano a média de abates ficou em 2,55 milhões de suínos/mês e nos meses de mai./jun./jul. a média de abates já alcançou 2,70 milhões/mês. O segundo semestre de 2014 terá oferta maior que o primeiro, mas infelizmente não temos dados confiáveis desse incremento.
Não é possível estabelecer qual o ponto de saturação da demanda interna, ou seja, qual o volume de abates/mês que gera instabilidade no mercado. Mas uma coisa é certa, a suinocultura brasileira somente vai dar novo salto de crescimento se dessa vez não sairmos deste boom de mercado para uma situação de crise. A expectativa para o mercado de grãos favorece a produção de suínos, resta-nos o trabalho de aumentar a demanda, e como o cenário de exportação permanece por hora sem muita novidade é imperativo que cada brasileiro coma mais carne suína para que não haja turbulência à frente e seja possível um pouso suave.