A importância da qualidade da água para avicultura

Pesquisadores e profissionais relacionados à avicultura têm salientado a importância da água como nutriente no desenvolvimento, saúde e bem estar animal. No cenário mundo, 97,5% da água é salgada e está em oceanos e mares, e apenas 2,4% é água doce, porém armazenada em geleiras ou áreas subterrâneas de difícil acesso. Apenas 0,1% da água doce do planeta é encontrada em rios e lagos, e o Brasil detém 12% do total dessas reservas.

Na avicultura, a água é utilizada na dessedentação e como insumo para aplicações de vacinas, limpeza, desinfecção de equipamentos e instalações. Em, 2013 a OIE definiu as liberdades de bem estar animal, sendo elas: saúde, conforto, nutrição, capacidade de expressar seu comportamento natural e não sofrer injúrias. Esse conceito associado ao de saúde única reafirmam a necessidade de voltarmos nossa atenção para a qualidade da água, que por vezes é esquecida ou negligenciada.

A água desempenha um papel essencial na avicultura, sendo responsável pelas funções vitais do organismo, como digestão, transporte e absorção de nutrientes, regulação da temperatura corporal e manutenção da hidratação. Em geral, as aves necessitam de água em quantidades superiores às de alimentos, principalmente durante os períodos quentes do ano ou quando as aves estão em fase de crescimento e produção.

O uso de água de má qualidade impacta nos índices zootécnicos e na disseminação de enfermidades, acarretando graves prejuízos econômicos, além de carrear agentes patogênicos de doenças de interesse em saúde pública. Por isso, um fator a ser considerado é a conservação e limpeza dos reservatórios de água e tubulações. Esta etapa é parte fundamental do programa de biosseguridade. A presença de biofilmes no interior das tubulações pode aumentar significativamente a chance de desafios sanitários por diferentes bactérias, fungos e vírus. Vamos destacar a seguir alguns parâmetros importantes que devem ser avaliados na água a fim de garantir a sua qualidade.

Dureza total

Refere-se à concentração de íons de cálcio e magnésio expressos em carbonatos. Em determinados níveis a dureza impacta na palatabilidade da água, pode causar incrustações nas tubulações, efeito laxativo e interferência na eficiência de alguns medicamentos e desinfetantes.

Metais e minerais

O ferro, na maioria das vezes, está associado ao manganês conferindo à água sabor amargo adstringente, coloração amarelada e aspecto turvo quando presente em concentração superior a 0,3 mg/ L. Já o magnésio, quando presente em níveis elevados na água de bebida das aves, tem efeito laxativo. Os nitratos e nitritos, quando em níveis elevados, indicam presença de poluição nas áreas onde a água está sendo captada. A toxicidade aguda provocada por estes compostos para seres humanos e animais está associada à redução de nitrato a nitrito, que por sua vez oxida o ferro da hemoglobina transformando-o em Fe+3, formando a metahemoglobina, que é incapaz de transportar oxigênio às células.

PH

Consiste em uma medida da acidez ou alcalinidade da água, e níveis inadequados podem afetar a saúde e o desempenho das aves. A água com pH muito baixo (ácido) pode irritar o trato digestivo das aves, causando danos nas mucosas e diminuindo a absorção de nutrientes, resultando em problemas de crescimento e desempenho. Por outro lado, a água com pH muito alto (alcalino) pode interferir na digestão das aves, afetando a absorção de nutrientes e elevando a incidência de problemas de saúde, como as disbioses, passagem de alimento, diarreias e até coccidioses.

O pH da água também tem um impacto na eficácia dos produtos químicos utilizados na desinfecção da água e dos equipamentos. É importante monitorar regularmente o pH da água fornecida às aves e realizar ajustes conforme necessário para garantir que o pH esteja dentro dos níveis adequados (entre 5,0 e 7,0, geralmente). Mantendo o pH da água estável, e na faixa adequada, evita-se problemas de saúde, se melhora o desempenho e aumenta a rentabilidade na produção avícola.

Cloro

O cloro é frequentemente utilizado para desinfecção da água e controle de agentes patogênicos, como bactérias, leveduras, fungos e vírus. A atividade bactericida do cloro varia de acordo com o pH da água. Em pH abaixo de 7, o cloro é mais eficiente, enquanto que em pH acima de 7, o cloro tem menos eficácia. Isso ocorre porque a forma ativa do cloro é o ácido hipocloroso (HClO), que é mais eficaz no combate a bactérias em pH abaixo de 7. Em pH mais elevados, o ácido hipocloroso começa a se dissociar em íons hipoclorito (OCl-) que têm uma ação bactericida mais fraca.

Por exemplo, em pH 6, o cloro pode eliminar mais de 99% das bactérias em menos de 30 segundos, enquanto em pH 8, o mesmo nível de eliminação pode levar mais de 16 minutos. É imprescindível monitorar a concentração de cloro, para manter níveis adequados e seguros. E ainda, destaca-se o uso do hipoclorito de cálcio como uma fonte de cloro segura, estável e que necessita menor quantidade em relação ao hipoclorito de sódio e demais cloros orgânicos, como tricloro e dicloro.

ORP

Consiste no potencial de oxidação-redução, sendo um parâmetro importante para avaliar a qualidade da água na produção avícola. Um ORP abaixo de 670 mV significa que a água tem capacidade reduzida de oxidar as substâncias presentes, o que pode gerar um acúmulo de microrganismos patogênicos que afetam a saúde das aves. Por outro lado, se o ORP estiver acima de 670 mV, significa que a água está livre de contaminação microbiológica, uma vez que a membrana celular dos mesmos se rompe, ocasionando a sua morte.

Contaminação microbiológica

A água é uma excelente via de transmissão de agentes patogênicos, principalmente aqueles que fazem a rota fecal-oral, uma vez que as atividades urbanas e rurais têm contaminado os lençóis das águas que captamos. As instalações hidráulicas também podem promover o acúmulo de material orgânico e contaminação do sistema de fornecimento de água. Entre os indicadores destacam-se os coliformes totais e a Escherichia coli. A Escherichia coli representa 95% das bactérias que compõem o grupo dos coliformes fecais, e a sua presença é o melhor indicador de contaminação fecal.

Pensando em saúde pública, sabe-se que as aves são suscetíveis à colonização por E. coli, um importante patógeno para seres humanos. Os estreptococos fecais, Pseudomonas aeruginosa e Salmonella sp., são alguns exemplos de microrganismos que podem ser transmitidos para as aves por meio da água contaminada, mas que facilmente podem ser eliminados por um sistema eficiente de cloração e acidificação da água.

Por fim, muitos são os fatores a serem observados quando se trata de qualidade da água para dessedentação dos plantéis avícolas, desde a fontes de captação, armazenagem, distribuição, temperatura, pH, desinfecção, entre outros. Para que possamos utilizar esse nutriente sem comprometer os plantéis e a sanidade é imprescindível analisar e tratar a água, garantindo um fornecimento de água de qualidade e segura.

As referências bibliográficas estão com os autores. Contato: comercial@americannutrients.com.br.


Fonte: Fonte: Por Obiratã Rodrigues, Michele Fangmeier, Daiane Carvalho - profissionais da American Nutrients

Data da Notícia: 16/01/2024
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