O Povo
Uma guerra silenciosa está ocorrendo. Produtos importados versus nacionais. É mais evidente nos ramos de perfumaria e bebida alcoólica. O contexto é a disparada do dólar, que está reconfigurando o consumo de alguns nichos. Por enquanto, empresários afirmam que a valorização de cerca de 40% da moeda norte-americana em 2015 ainda não foi integralmente repassada ao consumidor final.
Mas dá para sentir o peso das verdinhas do Tio Sam. O médico Bruno Benevides, 35, planejou equipar parte do seu novo consultório com produtos adquiridos nos Estados Unidos. Não deu. “Viajei duas vezes este ano para lá. Na segunda vez que fui, estava tudo mais caro. Planejava comprar aparelhos telefônicos e central telefônica da Panasonic. Acabei comprando da Intelbras”, empresa nacional. O próximo plano refeito é a compra do notebook. Será por aqui mesmo.
A coordenadora de marketing da American News Perfumes, Vanessa Viana, revelou ao O POVO que os produtos estão, em média, 20% mais caros. Afirma que o consumidor que não abre mão do importado percebe o aumento. Acaba reconhecendo ser mais vantajoso comprar no Brasil, já que muitos deram um tempo nas viagens internacionais.
“Temos conquistado um nicho de público que está deixando de viajar devido aos altos preços e, assim, está consumindo mais os nossos produtos importados. Além disso, as facilidades de pagamento no Brasil (como o parcelamento em até 10 vezes) são outra grande vantagem”, argumenta Vanesa.
O diretor financeiro da Parente, Lívio Parente, analisa não estar com menos clientes, apenas com um tíquete médio de consumo menor. Ele mantém o discurso de alta média de 20% dos importados, mas a redução da margem de negociação tem segurado a queda nas vendas, que estão 6% menores frente o mesmo período do ano passado (janeiro a outubro).
O preço do produto nacional acompanha o aumento do importado em função de ter insumos vindos de fora. É o caso de perfumaria e maquiagem, conforme cita. “Às vezes, o aumento é até maior, porque o nacional não se estoca. Então, importado ou não, há uma migração para produtos mais baratos”, destaca.
O presidente dos Mercadinhos São Luiz, Severino Neto, afirma que ainda não houve uma reação proporcional à alta do dólar nos produtos importados em suas lojas. Cita o pão sem glúten importado Schär. Ele diz haver opções nacionais mais baratas, com semelhante qualidade. Por exemplo, a geleia Casa da Madeira frente à importada Queensberry e queijos importados frente a queijos nacionais.
“Se atualizasse o preço do carro importado com a equivalência do dólar, o mercado de carros importados iria acabar. Vale o mesmo raciocínio para alimentícios. Os importados vão buscar competitividade para brigar com o mercado interno. Nesse sentido, o consumidor sai ganhando”, analisa.
Equivalência gourmetNão há equivalência para o uísque importado, por exemplo, ressalta o diretor-comercial do La Maison, Daniel Fiúza. Mas de vinhos e espumantes, o Brasil é bem servido.
Ele cita as marcas Casa Valduga, Miolo e Cav Geicse, como alguns rótulos de cerca de R$ 90, que podem ser opções para economizar e manter a qualidade. Fazem, tranquilamente, frente à proseccos italianos, cavas espanholas e espumantes chilenos, que são de 20% a 30% mais caros.
Para alimentos, a influência é mais o encarecimento do frete. O filé bovino, trazido de Goiás, está por volta de R$ 37 o quilo. “Um bom contra-filé, se o cliente quiser, está na faixa de R$ 25. Dá para fazer um jantar fino com essa carne”. Tem que caber no bolso e no paladar.
NÚMEROS
40%
foi quanto o dólar subiu do Natal de 2014 até agora. Conforme as lojas de importados, o consumidor não suportaria esse repasse integral aos produtos importados. Até agora, o repasse médio é de 20%