A Carne Suína Faz Mal?

PorkWorld

Durante décadas todos nós envolvidos com o segmento de carne suína ouvimos e lutamos contra o preconceito de que “carne suína faz mal”. E esta luta ainda não acabou, ainda que seja possível vislumbrar a mudança de atitude do consumidor brasileiro em relação à carne suína. As origens desse preconceito remontam aos tempos bíblicos e ensejou nas religiões judaica e mulçumana a proibição do consumo da carne suína, já que evidentemente as condições de conservação de carnes da época ensejavam doenças. Algumas religiões cristãs alimentam essa prevenção por interpretações literais dos escritos bíblicos e a trazem aos dias atuais, em que ciência nos permitiu um muito melhor entendimento etiológico, com a tecnologia dando-nos meios de preservar as carnes e assegurar seu consumo seguro. Não precisamos, entretanto, voltar aos tempos bíblicos. Um dos maiores cientistas brasileiros, Dr. Adolpho Lutz, em escrito de 1921, profere: “As ideias confusas que a atribuíam ao consumo da carne de porco e outros alimentos foram cedendo pouco a pouco, desde que ninguém conseguiu observar a lepra verdadeira nos porcos. Apenas a teoria da transmissão por peixes, devido à autoridade, ou, antes, à teimosia de Hutchinson, não sofreu a repulsa que merecia”.

Superado o temor bíblico, que acabou também envolvendo os peixes, consideração mui pouco bíblica, junto com a evolução dos conceitos evoluíram os preconceitos. Para citar o Dr. Adolpho Lutz, no mesmo pronunciamento: “Mas, naquele momento, como ainda hoje, existia a tendência a repetir os erros desde que estivessem ligados a uma ou outra suposta autoridade”, o que parece tão atual que corre o risco de se tornar afirmação histórica permanentemente nova.

O preconceito evoluiu para que a afirmação que suíno era uma carne gorda. Não se distinguia a carne da gordura para qual era criado o animal, já que a banha era a gordura usada na cozinha brasileira. Partiam da premissa que um animal gordo teria uma carne gorda. Surgem então os óleos vegetais e a banha, em companhia de outras gorduras animais, passam a ser execradas e se tornam a pedra de toque de todas as enfermidades. Hoje, basta um rápido passeio pela internet para que pululem artigos apregoando os benefícios da banha e de outras gorduras animais, e alertas sobre o perigo representados pelas gorduras trans e atualmente crucifica-se a margarina, que há umas poucas décadas atrás tinha vindo para salvar a humanidade dos terríveis males da manteiga. Readmitidas, portanto, tanto a banha de porco quanto a manteiga de volta para a nossa mesa, reavivando sabores que ameaçavam ficar esquecidos, se não fossem os bastiões da cozinha tradicional.

Os produtores brasileiros de suínos quase que baniram o substantivo “porco” de seus dicionários e se em uma conferência falo em “carne de porco” alguém rapidamente me corrige com a expressão politicamente correta “carne suína”. Vou fazer uma confissão e espero não ser crucificado: quando não há plateia para me corrigir eu como carne de porco, deliciosa, e presente na minha mesa várias vezes por semana. Quando diante de uma plateia eu como “carne suína” e é identicamente deliciosa. Não sei se não devemos começar a lutar contra esse conceito preconceituoso, novamente de origem bíblica, onde o animal é qualificado de imundo. País colonizado pelos portugueses e de maioria católica, na linguagem popular brasileira a expressão porco é associada ao de hábitos higiênicos inadequados. Ok, eu compreendo a origem e o tom ofensivo que assume, mas por favor como devo pedir a banha que uso em casa para cozinhar? Como banha suína? Não soa estranho para quem passou a vida pedindo banha de porco?

Esta longa introdução deve estar espantando quem já leu meus escritos, sempre cheios de dados e fatos, seguindo os ensinamentos de meu mestre e guru Vicente Falconi. Este não será diferente. Recentemente, escrevi um artigo sobre consumo per capita de carnes no mundo e no processo verificava que a carne suína era a mais consumida entre povos de expectativa de vida elevada. Ao mesmo tempo eu me indagava como é que no Brasil ainda persiste o preconceito de que “a carne suína faz mal”, inclusive entre membros da classe médica. Vou tentar contribuir com uma gota ao oceano que necessitamos para afastar esse preconceito. Listarei neste artigo os países com os melhores IDH, verificarei o consumo per capita total de carnes e o da carne suína sobre esse total e compararei esses elementos com a expectativa de vida. A proposição é simples. Já que há quem diga que a carne suína faz mal veremos se resiste a uma confrontação com fatos e dados.

Confira a matéria completa nesta edição da Revista Pork



Data da Notícia: 12/02/2016
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