Diário Catarinense
Infelizmente, é possível proclamar com todas as letras: 2015 foi desperdiçado, jogado no fundo do vale das ilusões perdidas. Iniciamos o ano com as terríveis revelações sobre a extensão e a gravidade da irresponsabilidade fiscal do governo federal, que levou a uma situação de bancarrota a administração federal para vencer as eleições. Gastou mais do que podia e do que estava autorizado a gastar. Pior: adotou uma gestão temerária nas tarifas de energia elétrica, gás, combustíveis e outros preços administrados, apenas para ganhar a simpatia e os votos da sociedade.
Foi uma vitória de Pirro. Os resultados desse modelo populista de gestão eclodiram com seu devastador efeito no início do ano. A economia está paralisada e a inflação não cessa de subir. O desemprego devora mais de 1 milhão de postos de trabalho. O consumo não cresce, a produção não avança. O nível de confiança do empresário está muito baixo para investir. O consumidor está em pânico.
Nesse quadro caótico, seria de se esperar que governo e Congresso trabalhassem unidos pelo objetivo comum de retirar o país do fosso. Estarrecida, a sociedade assiste à conjugação da incompetência com a omissão de governantes e parlamentares.
Desde o primeiro dia desse governo até hoje, não se avançou um milímetro em direção a uma solução qualquer que pudesse sinalizar uma tentativa de ataque aos graves problemas nacionais. À abulia do governo soma-se o descompromisso do Congresso. O único movimento desses quase 12 meses foi para baixo. Estamos afundando dia a dia. Todas as metas da política macroeconômica foram reiteradamente revistas e, finalmente, adiadas.
Chegamos a um melancólico momento da história contemporânea, em que nada que governo e Congresso façam venha revestido de credibilidade, mesmo que sejam ações legítimas e bem-intencionadas. A sociedade está cansada e desiludida.
Uma febre alienante acomete os altos escalões da República, que parece desconhecer ou ignorar o drama dos milhões de desempregados, de micro e pequenos empresários que fecharam as portas, de famílias desassistidas e de municípios em crise pelo fechamento de indústrias.
O fim do ano chega com o programa de ajuste fiscal ainda não aprovado e nenhuma medida concreta, para colocar a economia nos trilhos, adotada. Sequer medidas de redução de despesas foram implementadas. A única linguagem que o governo entende é aumento de impostos.
Depois de proporcionar sucessivos superávits de US$ 100 bilhões ao ano e salvar a balança comercial do Brasil, o agronegócio também se declara cansado. As medidas de apoio ficaram no discurso. As péssimas condições de infraestrutura destroçam a eficiência e a competitividade obtidas, em face da inexistência e/ou das más condições de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, comunicações e geração de energia.
O pior de tudo não é reconhecer tudo isso. É pressentir que, no próximo ano, sentiremos saudade de 2015.
*Presidente da Cooperativa Central Aurora Alimentos